"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Preconceitos sempre encontram confirmação na realidade


Adriana Tanese Nogueira

Por incrível que pareça e como todos podem conferir em sua vida, os preconceitos conseguem provas de sua suposta "verdade". O que se pensa nas entrelinhas das idéias oficiais, o que se teme e o que se almeja sem assumi-lo conseguem casar-se com algum detalhe do cotidiano que os confirma. Ah, então é verdade que ele fez isso! Ah, viu? Eu estava desconfiada que ela era aquilo! O que queremos e o que tememos nas sombras, às vezes, sem nem ousarmos ser sinceros conosco, ganha garantia de validade através de alguma coisa que inevitavelmente acontece.





Desta forma, o preconceito se transforma em conhecimento certo e a intenção por baixo do preconceito mantém sua invisibilidade cômoda. Por exemplo, pesquisas (Ybarra, 1999)

mostraram que pessoas racistas tem baixa auto-estima. E será que uma pessoa racista não encontrará algo a dizer contra um negro? Claro que irá encontrar falhas, que irá confirmar que seu racismo é legítimo, que seu preconceito de raça nasce de uma realidade objetiva e que, obviamente, sua baixa auto-estima (que sequer é baixa, ela respondará) não tem nada a ver com isso. A verdade é que... o racismo é legítimo. Exemplos como esses, temos a toneladas.







Na vida cotidiana, nas situações que movem emoções subterrâneas e não transparentes, o julgamente pré-concebito dita a norma. Pré-conceitos nascem de convicções baseadas em raciocínios errôneos fruto de experiências mal trabalhadas que porém deixaram a marca (como se fosse um sulco no terreno da psique). Quanto menos uma pessoa possui clareza interior, mais intensos e numerosos serão seus preconceitos. No lugar do conhecimento, está o pré-conceito, uma concepção pré-obtida, pré-existente a experiência atual.





Acontece porém que o pré-conceito, como um imã, atrai para si eventos da mesma tonalidade afetiva dele próprio. Assim pessoas desconfiadas encontrarão pessoas inconfiáveis. Mas não é tão simples assim, porque o pré-julgamento na maior parte das vezes funciona nas sombras, não é explícito como tomar partido por uma idéia. Poucas pessoas hoje se declarariam explicitamente racistas, por exemplo. Nem por isso, deixam de sê-lo. O preconceito permanece oculto e de lá sua ação é incrivelmente mais efetiva.





Como funciona? Funciona de maneira muito simples: preconceitos monopolizam o foco, fazendo o olho bater naquilo que irá confirmar seu conteúdo. O ouvido ouve, o olho vê, o cérebro pensa em sintonia com o preconceito. A realidade que vemos já penetra em nossa mente interpretada conforme, e quem é o maestro d'orquestra que rege o tipo de música que será tocada? O preconceito.





O preconceito é um raciocínio falacioso. E é falho porque está fundamentado na interpretação errônea de fatos para que se acordem com um padrão emocional e cognitivo de fundo. A menina apaixonada verá qualquer movimento do namorado como prova do amor dele, mesmo quando ele está assoando o nariz... mas foi no lenço que ela lhe deu! O homem ciumento terá provas da inconfiabilidade de sua esposa quando ela olha casualmente para o homem que passa pela avenida... e assim em diante.





Como pulgas num clima quente e úmido, preconceitos se fortalecem e se reproduzem num ambiente culturalmente pobre, em consciências fracas e na ausência de auto-conhecimento honesto. Não à tôa, que Einstein disse: "É mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo."

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