"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Psicologia é uma "ciência" exata

Entendo ciência no sentido de conjunto organizado de conhecimentos. Apesar dos acadêmicos tentarem fazer da psicologia uma ciência do âmbito das ciências naturais, não é do perfil da psicologia oferecer respostas como a biologia ou a física fazem. Pesquisas e estatísticas psicológica oferecem conhecimentos, mas até que ponto?




Ao querer compreender uma reação emocional, um sentimento que perturba, uma sensação angustiante, um pensamento fixo, é necessário "descer" ao detalhe com precisão matemática para que o problema seja compreendido e assim também resolvido. A tomada de consciência que, como por um clic, muda a perspectiva e mostra o caminho, é um processo que está baseado não em discursos genéricos, mas em uma visão acurada e até microscópica.

Percebo, muitas vezes, que isso não é de conhecimento comum. Quando as pessoas buscam entender o que lhes acontece, elas se contentam com uma visão geral, que lhes esclarece o sentido geral de seu problema, mas que de fato não o resolve. Acusa-se a psicologia de ser vaga, e corretamente. Mas isso porque o que está se fazendo não é

psicologia "individualizada". É como quando se quer compreender o aceleramento cardíaco e suas consequências. Entretanto, esse conhecimento geral não explica por que você está tendo esse problema, por exemplo quando sequer está em movimento. O que acontece no indivíduo somente uma análise individualizada pode identificar.



O mesmo ocorre em psicologia. O que é na psicologia de um é normal, pode ser absurdo para o outro (veja-se a psicologia junguiana dos tipos). O que vale em geral pode não valer e aliás ser prejudicial para uns e outros. As estatísticas em psicologia fornecem informações que arriscam levar fora do caminho o entendimento do comportamento individual. Isso porque ao criar uma compreensão padrão nos tornamos cegos para o particular, extende-se um tapete uniformizante e mata-se a individualidade. Cuidado, portanto, com o fast-food psicológico.



Muitas vezes me pedem "dicas", que frequentemente não posso dar. Para algumas situações mais simples tenho "dicas", mas na maior parte das vezes, seria irresponsável dar respostas sem ter um conhecimento suficiente da situação. Dicas em psicologia são válidas quando são genéricas, assim como as dicas em saúde. É importante comer fibras, beber dois litros de água por dia, evitar frituras, comer bastante verduras e fazer exercício. Da mesma forma, em psicologia há boas dicas para pais, filhos, no trabalho, na relação, em casa e na rua.


Adriana Tanese Nogueira



Agora, não é pela dica que vai-se compreender uma situação específica. Esta estará esclarecida quando a pessoa chegar a identificar o que exatemente acontece, como exatamente ela está envolvida na situação, quais sentimentos e emoções exatos afloram, em qual momento exato, o que exatemente acontecia antes e depois, dentro e fora, e assim em diante. Aliás, se tem uma dica que posso dar em psicologia é essa: aprendamos a ser precisos, a afinar a visão para enxergar com clareza os detalhes do que queremos entender. Sem isso, é conversa boa mas estéril.



A psicologia é uma produção de conhecimento que é efetivo na medida em que é exato. Se não não serve. Obviamente, porém, é preciso dar tempo. Se as dicas psicológicas são o fast-food da psicologia, a análise apurada é a bateria de exames que requer investimento e dedicação.

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