de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade, em 'Discurso da Primavera'
A palavra que nos diz é mágica porque ela revela quem somos, o que nos torna verdadeiramente diferentes dos outros. A palavra que conta de nossa essência nasce da alma. Na verdade, são tantas palavras, resultado da jornada do ser que se expressa de forma única em cada um de nós.
Encontrar nossa palavra equivale a poder ter voz, e portanto vez no jogo da vida. Essa voz aparece após termos aberto caminho entre dois emaranhados que se entrelaçam e se reforçam reciprocamente. De dentro, ecoam as vozes dos outros, da mãe, do pai, da família de origem. Ditam normas, o certo e o errado, o esperando e o indesejado. Para além dessas vozes outras podem ser ouvidas, padrões de comportamentos ancestrais, modos de pensar herdados com os genes, hábitos antigos que mal reconhecemos como nossos mas que se impõem a nós sem que lhes damos nossa aprovação. De fora, amigos, sociedade, mídia pressionam para encapsular cada indivíduo num padrão humano, manejável, conhecido, limitado.
Ambas as florestas silenciam a voz interna, porque fazem muito barulho. É uma falação contínua que prejudica a audição do que realmente queremos, sentimos e pensamos. Muita gente acha que sabe o que pensa, quando na verdade está repetindo o que lhe foi ensinado a pensar. O que elas fazem não é pensar mas reproduzir pensamentos dados. O pensar nasce da reflexão a partir daquela voz interna, a única coisa original na algazarra de estereótipos e "ter que ser" que habita as psiques que são inconscientes de si.
Cada passo do caminho se cria no discernimento atento e preciso entre todos os pensamentos e sentimentos que surgem internamente. A confusão inicial irá no tempo se clareando até que, como o baú do tesouro, debaixo da areia das falas estéreis e monótonas, encontrar-se-á a propria palavra mágica.
Fonte: Adriana Tanese Nogueira
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