"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Educação psicológica. O que é?

Adriana Tanese Nogueira


Na escola aprendemos a ler e escrever. Desenvolvemos conhecimentos sobre diferentes matérias, nos entediamos, adquirimos amigos e inimigos; e, algumas vezes, alcançamos alguma orientação sobre como pensar, ou seja, sobre o próprio processo do pensamento. Sobretudo, absorvemos regras, comportamentos e modos-de-ser. Entretanto, não somos robôs. Precisamos mais do que manuais sobre como ser. Uma pessoa não pode encontrar a felicidade seguindo trilhas dadas. Não há fórmulas para interpretar um ser humano.



Quando é que uma pessoa aprende a respeito do que sente? Como pode ela descobrir como trabalhar suas sensações interiores e pensamentos in função de dar uma resposta apropriada ao mundo de fora? E o que dizer dos sonhos? E daquele sentimento de que há alguma coisa espreitando por dentro e tentando se comunicar conosco?





Não existe um lugar oficial e público para esse tipo de aprendizado. Quem quiser evitar fórmulas prontas, e realmente chegar a entender quem é, vai precisar sair do caminho coletivo e direcionar-se para a educação psicológica.



A educação psicológica ensina a linguagem do mundo interior, ajuda uma pessoa a entrar em contato com esse mundo e a educa a caminhar ao lado de si própria. Em harmonia. A educação psicológica permite, também, o aprendizado da coragem e da auto-afirmação, desenvolve a inteligência cognitiva e emocional junto à habilidade de entender os outros.

Melhora a sensibilidade, dispara a sede pela vida e a força de vontade, além de promover uma atitude amorosa para consigo próprio e o mundo.



A educação psicológica é tão importante quanto aprender a ler e a escrever. Não é pelo aprendizado de livros, mesmo os de psicologia, que uma pessoa vai poder se conhecer, mas desenvolvendo o olhar correto, aprendendo a refletir sobre si própria enquanto vive. Livros oferecem orientações e insights, mas permanecem genéricos diante da realidade única e inimitável de cada indivíduo. Conhecer-se não é categorizar-se dentro de um determinado código de interpretação. Ao contrário do que se pensa, esse modo de proceder consigo próprio esclerotiza o entendimento de si. No lugar de abrir caminhos sobre a compreensão dos acontecimentos internos, os fecha pregando etiquetas e explicações prontas sobre a entrada misteriosa de nosso ser.



O único modo para se conhecer sem se congelar em estereótipos (que sejam os comerciais ou os "psicológicos" que diferença faz?) é aprendendo a reflexão crítica sobre si próprio através do exercício da presença. Essa é uma prática que só ocorre no dialogo com uma pessoa que já "funciona" assim, ou seja, uma psicoterapeuta. Não um psicólogo, cujo conhecimento é sobretudo acadêmico, mas um psicoterapeuta, a pessoa com "as mãos na massa", aquela que caminhou sobre suas próprias pernas, tendo alcançado a posição que ocupa de corpo, alma e mente. Um psicólogo que não tem experimentado uma grande variedade de vida interior, que não cumpriu a jornada interna não é melhor do que qualquer outra pessoa. Ambos tem conhecimento sobre os "outros", um possui preconceitos coletivos vindos da mentalidade comum, o outro tem "conhecimento científico" baseados em estatísticas e análise de laboratório. O psicoterapeuta é aquele em contato com a alma humana e pode compreender as dos outros e ajudá-los a se compreenderem porque ele vive em constante e consciente contato com ela.



Por que deve ser um profissional psicoterapeuta? Poderia de fato ser qualquer outra pessoa que já tivesse alcançado esse nível de reflexão e auto-conhecimento. Entretanto, seria como pedir para um cientista ter conversas educativas sobre física, por ex., com alguém no primeiro ano de colegial ou do primário. Ele pode fazer isso, com certeza, pelo menos deveria fazê-lo com seu filho. Mas estará ele disposto a utilizar seu tempo assim?



Um cientista só terá um dialogo que lhe seja realmente proveitoso sobre sua matéria com outro cientista. Com os demais interessados, ele poderá ser um professor, ou seja, oferecer uma educação sobre o que tão bem conhece. Isso porque o dialogo com o principiante pertence ao campo do trabalho. Ensinar é um trabalho. Que se ensine física ou desenho, matemática ou dança, ou que se faça educação psicológica o contexto é o mesmo: exige-se pedagogia e didática, tempo, disponibilidade e vocação.



A educação psicológica deveria ser tão esperada quanto ir à escola.

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