"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Votos de Ano Novo

No dia de hoje, o último dia deste ano,  nós nos permitimos a fazer votos, lançar desejos e pensamentos.  Desejos de futuro,  como memórias de futuro. 

Mas essas memórias de futuro para esse ano novo que se aproxima não acontecem sem esquecimento, sem que a gente redima o nosso passado, se liberte das marcas, dos sofrimentos, das dores mal digeridas, dos envenenamentos que a vida sofreu e transmute isso. Temos que transformar essas marcas em fluxos. Não basta esquecer simplesmente ou jogar esse passado para baixo do tapete. É necessário cultivá-lo. É necessário honrar os mortos, enterra-los e torná-los simplesmente justificáveis para esse futuro que se aproxima.  Assim a gente se liberta do passado que, se ficássemos presos, estaríamos presos a fantasmas. E, ao contrário, podemos ao fazer das marcas  fluxos, fazer disso também fonte de lançamento para um futuro que se aproxima e no qual permanecemos através de uma memória da vontade, de uma memória de desejo, de uma memória de futuro. 

Com memória de futuro e esquecimento ativo nós podemos criar a nós mesmos, criar um novo tempo, criar um novo espaço,  criar um novo modo de desejar, de sentir e de pensar. Mas é preciso criar isso tudo. Isso não será dado. Não basta você esperar, ter esperança, se lançar, usar esta ou aquela cor, fazer este ou aquele passo, fazer esta ou aquela mímica, este ou aquele ritual. É preciso atitude. É preciso lançar-se na criação de si mesmo, nessa grande aventura que faz do tempo, além deste mistério que se repete, que oferece essa repetição de ciclos para nós, como uma graça, se oferecer também como produção, como fonte de criação de nós mesmos e de novas maneiras de existir. 

É isso que eu te desejo, esquecimento daquilo que atola e rebaixa a vida, mas não para simplesmente deixar isso de lado, mas esse esquecimento deve ser uma conquista, deve ser conquistado com a fluidez disso que se coagulou em nós, dessas imagens estagnadas e mortas.  É preciso faze-las de novo fluir, é preciso faze-las de novo efeitos de acontecimentos dos quais nós tínhamos, de alguma maneira, mau feito a digestão. E essas coisas indigestas, à medida que são processadas, são acabadas, são realmente dignificadas, tornam-se energia e fonte de criação. Assim nós fazemos, não só do nosso passado, mas de tudo que advier nesse futuro que se aproxima, fontes de criação de si mesmo e de novas realidades, fontes de beleza , de alegria, de um gozo pleno, de libertação, fontes de produção de vontade, de produção de desejo. 

Não basta esperar ou ter esperança, ou fazer apostas. É preciso agir . É preciso se colocar numa atitude de encontrar a si mesmo como potência de criar. Mas não apenas encontrar, é preciso criar também as condições para que isso aconteça. Por isso é necessário nos por ativos, por isso é necessário tornarmo-nos cada vez mais nós mesmos, ser cada vez mais você mesmo. Você não precisa engolir sapos, você não precisa também vazar nas relações e estragar tudo. Você pode ser você mesmo com muita firmeza e com uma amorosidade cruel. Porque é no amor dos fortes, no amor da vida forte que o imediato se faz novamente uma presença de acontecimento e fonte de alegria e criação de liberdade. 

São esses votos que eu desejo para você, para mim, para nós todos: força com esquecimento ativo e transmutação dos nossos passados e das nossas marcas em energia de criação e memória de futuro para que sejamos persistentes nos nossos propósitos que fazem de nós singularidades e necessidades vitais. 

Que assim seja! 

(Transcrição - Vídeo YouTube 31/12/2017)



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