Não subestime essa prática ou pense
que esse assunto é coisa de gente fraca, estamos falando de um tema capaz de
derrubar qualquer um
![Guilherme3](http://dnuev08jo8hku.cloudfront.net/media/W1siZiIsIjIwMTUvMDEvMDcvMTQvMjYvMTUvNzQvZ3VpbGhlcm1lMy5wbmciXSxbInAiLCJ0aHVtYiIsIjIwMHgyMDAjIl1d/guilherme3.png?sha=92937fe1b3e49218)
Pessoal, como
comentei no começo do artigo "Autocompaixão: 26 perguntas para
descobrir quanto dela tem consigo mesmo", tomei a liberdade de
usar a mesma introdução lá e aqui. Os dois textos se complementam. Quem já
tiver lido o primeiro, pode pular direto pra prática, lá embaixo.
* * *
Vivemos num mundo
povoado por bestsellers e coaches motivacionais
inspirados em mantras de positividade e autoestima. Aprendermos que é bom
cultivarmos uma autoestima elevada e quando agimos de acordo, nos sentimos bem.
Então qual
seria o problema em nos focarmos exclusivamente na autoestima?
Kristin
Neff, uma das principais referências em autocompaixão no mundo hoje
e autora já publicada no PdH,
nos explica:
"O principal problema é que para
se ter uma autoestima elevada é preciso sentir-se especial e acima da média.
Ser chamado de “mediano” é
considerado um insulto em nossa cultura. (O que achou do meu desempenho ontem à
noite? Foi mediano. Opa!) Claro, obviamente é impossível que cada ser humano no
planeta seja acima da média, ao mesmo tempo.
Então, desenvolvemos o que é
conhecido como um “viés de auto-aprimoramento”, que se refere à tendência de
nos acharmos superiores aos outros em uma variedade de dimensões.
Estudos têm mostrado que a maioria
das pessoas se acha mais simpática, mais popular, mais engraçada, mais
agradável, mais confiável, mais sábia e mais inteligente do que os outros.
Ironicamente, a maioria das pessoas também acha que está acima da média na
capacidade de se ver objetivamente! O resultado de se usar esses óculos
cor-de-rosa não é tão bonito.
Essa necessidade de se sentir
superior resulta em um processo de comparação social, no qual continuamente
tentamos nos sobressair e desvalorizar os outros."
Em uma pesquisa
realizada com milhares de universitários americanos entre 1987 e 2006, o
narcicismo observado escalou significativamente. Sessenta e cinco por cento dos
estudantes atuais superam as gerações anteriores em narcicismo e, não por
acaso, em autoestima. Vocês podem ler em detalhes sobre no livro Generation Me (Geração Eu), de Jean Twenge.
Fora a constante
comparação social, a obsessão pela autoestima nos envolve num processo de
severa autocrítica.
Quando algo que nos
faça sentir menos superiores acontece, nossa dignidade despenca. Passamos a
oscilar entre picos e vales emocionais, ora nos vendo como os reis da montanha,
ora como o mosquito do coco do cavalo do bandido. Naturalmente, isso nos deixa
mais vulneráveis a sentimentos de ansiedade, insegurança e depressão.
É
mais ou menos assim: você se sente melhor do que os outros por conta dos seus
músculos impressionantes, mas quando se dá conta do corte de cabelo ridículo, a
autocrítica que anda sempre de mãos dadas com a autoestima obsessiva faz você
se sentir um merda. E o ciclo se repete ad nauseum...
Mas a alternativa
então seria dispensar a autoestima e nos sentirmos pior, sem aquela confiança
costumeira que gostamos de exibir por aí? E sem a crítica severa, será que não
vamos nos tornar pessoas complacentes, que avançam vagarosas pela vida?
Nada disso. Apresento a autocompaixão, senhoras e senhores
Nas palavras de
Kristin Neff:
"Que tal nos sentirmos bem com
nós mesmos, sem a necessidade de sermos melhores do que outros, caindo assim na
armadilha do narcisismo/auto-reprovação?
Autocompaixão envolve sermos gentis
com nós mesmos, quando a vida dá errado ou notamos algo sobre nós que não
gostamos, em vez de sermos frios ou severamente autocríticos.
Ela reconhece que a condição humana é
imperfeita, assim, nos sentimos conectados aos outros quando falhamos ou
sofremos, em vez de nos sentirmos separados ou isolados.
Envolve também a conscientização – o
reconhecimento e a aceitação imparcial das emoções dolorosas ao passo que
surgem no momento atual. Ao invés de suprimir nossa dor, ou então torná-la um
drama pessoal exagerado, vemos a nós mesmos e a nossa situação
claramente.
Autocompaixão não exige que nos
avaliemos positivamente ou que nos vejamos como melhores do que outros. Pelo
contrário, as emoções positivas da autocompaixão surgem exatamente quando a
autoestima cai. Quando não atendemos a nossas expectativas ou falhamos de
alguma forma.
Isto significa que o senso de
autovalorização intrínseco inerente à autocompaixão é altamente estável."
A confiança no que
digo vem – antes das aspas, fontes, estudos teóricos e links de aprofundamento
– de minha própria experiência com o tema. Não estivesse aplicando isso no meu
cotidiano, jamais teria a desfaçatez de recomendar publicamente a alguém
experimentar o mesmo.
Acolha um terrível erro ou falha sua como faria com um grande amigo que
esteja sofrendo
Vamos à prática do
dia. Podemos chamá-la de "autoabraço".
Sente-se sozinho,
com tempo disponível. Lembre-se de algo que tenha feito e que considere
bastante ruim.
Ou então pense em
algum traço de personalidade seu que considere detestável, digno de vergonha.
Puxe pela memória situações ligadas a essa característica e como se sentiu mal
em cada um delas, ainda que secretamente.
Agora imagine que,
ao invés de você ser o perpetrador do ato ou dono da imperdoável falha de
personalidade, é um grande amigo.
Como você acolheria
essa pessoa ao escutá-la confessar suas dores e dificuldades? Seria cruel e
agressivo ou carinhoso e compreensivo?
Observe qual seria
sua postura e tente encontrar as visões por trás de suas ações e julgamentos.
Experimente ser bastante generoso e se acolher, compassivamente.
Ao longo dos
próximos dias, note como é comum nosso olhar julgar os outros negativamente nos
menores atos, para nos sentirmos superiores. E como esse mesmo olhar duro logo
se aplica a nós mesmos, quando estamos sozinhos.
Substitua, quando
possível, a crítica severa por esses abraços imaginários e depois compartilhe
conosco como foi.
Boa sorte!
* * *
Nota: esse texto faz parte da coleção "23 dias
para um homem melhor". Você pode ver a lista com todos os artigos já publicados aqui.
Índice de todos os 23 artigos do projeto:
- 23 dias para um homem melhor
- Aprenda a parar e cultive mais
lucidez
- Aprenda a falar e ouvir
- Faça um check-up de cuidados
pessoais
- Substitua um hábito alimentar
por um ruim
- Gaste dinheiro com alguém que
não seja você
- Transforme seu local de
trabalho em um espaço de treinamento
- Faça trabalhos manuais
- Cultive relações de parceria
- Use a moda e o estilo como um
recurso
- Crie experiências coletivas
- Faça um planejamento
financeiro que realmente funcione
- Seja uma pessoa fácil de se
trabalhar em parceria
- Use o corpo para se expressar
- Seja produtivo usando seu
próprio método
- Faça check-ups e exames
regulares – não deixe para ir ao médico quando estiver morrendo
- Aprenda a diferença entre amor
romântico e amor genuíno
- Amplie seu mundo por meio da
cultura
- Monte um guarda-roupa básico e
matador
- Cultive mais autocompaixão, ao
invés de mais autoestima
- Lembre-se que as relações
sempre seguem
- Cultive disciplina
- Faça uma reserva financeira de
emergência
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