C. G. Jung
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O reconhecimento das sombras conduz à modéstia fundamental de que precisamos para admitir imperfeições. Esse reconhecimento e constatação conscientes devem sempre acompanhar as relações humanas. Estas não repousam sobre a diferenciação e a perfeição, pois estas apenas ressaltam as diferenças ou trazem à tona exatamente o oposto; ela se baseia sobretudo nas imperfeições, naquilo que é fraco, desamparado e necessita de ajuda e apoio. O que é perfeito não necessita dos outros. Já o fraco se comporta diferentemente, buscando apoio no outro e, por isso, não se contrapõe ao parceiro nada que o coloque numa situação inferior ou mesmo que o humilhe. Tal humilhação só pode acontecer facilmente quando num idealismo desempenha um papel por demais eminente.
Esse tipo de reflexão não deve ser considerado um sentimentalismo superficial. A questão das relações humanas e da conexão interior é urgente em nossa sociedade, dada a atomização dos homens, que se amontoam uns sobre os outros e cujas relações pessoais se movem na desconfiança disseminada.
Onde a insegurança jurídica, a espionagem policial e o terror estão ativos e operantes, os homens buscam inclusive o isolamento que, por sua vez, é o objetivo e a intenção do Estado ditatorial, fundado sobre a aglomeração do maior número possível de unidades sociais impotentes. Diante desse perigo, a sociedade livre precisa encontrar um elo de ligação de natureza afetiva, um princípio como por exemplo o da caridade que representa o amor cristão ao próximo. A falta de compreensão gerada pelas projeções compromete justamente o amor pelos outros homens. Sendo assim, o mais alto interesse da sociedade livre deveria ser a questão das relações humanas, do ponto de vista da compreensão psicológica, uma vez que sua conexão própria e sua força nela repousam. Onde acaba o amor, têm início o poder, a violência e o terror.
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