Era uma vez uma menina que amava um pássaro
encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o pássaro a fazia
imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: 'Tenho
de ir'. A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse.
'Menina', disse-lhe o pássaro, 'aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou
encantado por causa da ausência. É na ausência que a saudade vive. E a saudade
é um perfume que torna encantados a todos os que o sentem. Quem tem saudades
está amando. Tenho de partir para que a saudade exista e para que eu continue a
amá-la, e você continue a me amar...' E partia.
"A menina, sofrendo a dor da saudade,
maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir,
ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: 'Agora ele será meu para sempre'.
Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores,
perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o
amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele
pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e
voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe. A estória
termina na ausência do pássaro e a menina se enfeitando para a sua volta.
Rubem Alves
Rubem Alves
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