"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Viver e morrer sem arrependimentos


Adriana Tanese Nogueira

O livro “Os cinco principais arrependimentos de pacientes terminais” foi escrito pela enfermeira australiana Bronnie Ware ao acompanhar durante 12 semanas doentes terminais. A mortalidade, diz ela, ensina muita coisa. Essa idéia já foi levantada desde 1968 pelo xamã Yaqui Don Juan retratado pelo antropólogo Carlos Castañeda. Muita coisa boa aconteceu em 1968, e uma delas foi o convite a sacudir dos ombros as certezas sólidas, o status social e material e viver a vida de forma mais verdadeira e espontânea. Nesse contexto é que fazem sentido as palavras de Don Juan: viva como se a morte estivesse caminhando ao seu lado.





A morte é sua amiga. Longe de ser uma postura fatalista e pessimista, pensar que a morte está ao nosso lado se torna o suporte psicológico para lembrar de ter uma vida boa. Vida boa é aquela que se eu morresse agora iria embora com o sentimento de que estou em paz com minha consciência - comigo em primeiro lugar. Sei que fiz o máximo, sei que fui fiel à mim mesma, sei que paguei por isso e tenho orgulho das minhas escolhas. A morte ensina a não desperdiçar a vida, a não empurrar com a barriga, a não perder tempo, a não se perder em masturbações mentais e orgulhos que prejudicam a nós mesmos mais do que a qualquer outra pessoa.





Evidentemente, não podemos saber se fizemos tudo certo, porque não temos a oniscência divina para conferir as consequências de tudo em todas as direções, e porque as variáveis são sempre mais incontroláveis do que é possível imaginar. Porém, ao olhar introspectivo honesto todo mundo é capaz de perceber o que é importante e que está deixando de fazer, o que vale e não recebe a atenção merecida. Todos podem são perfeitamente capazes de sentir o coração doer. A morte amiga faz tocar as sirenas do alarme e inverte a direção de marcha: é preciso dar voz e vez ao coração.





Afinal, é basicamente isso que as pessoas que Bronnie Ware acompanhou até a morte testemunham: que o coração não foi ouvido o suficiente e que por isso a vida não foi satisfatória.





Primeiro arrependimento: "Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim." Dar valor ao que se sente, ter coragem de assumir o sentimento, o desejo, a escolha. Levantar a cabeça e ter a ousadia de se tornar Si Mesmos e não uma cópia de um modelo social estereotipado onde estamos representados nos detalhes não na essência. E o pior é que muita gente nem percebe que não passa de um estereótipo, atualizado e colorido talvez, mas só isso.





Segundo arrependimento: "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto." Bom, esta é a cruz de muitos homens. Cruz que eles assumem porque muitas vezes não sabe fazer diferente. Se o coração está sufocado, não resta que trabalhar.





Terceiro arrependimento: "Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos." Esta percepção no leito de morte é triste. Uma vez que não se pode voltar atrás, todas as palavras não ditas ficam presas na garganta. O pior é que em geral essas são palavras de amor...





Quarto arrependimento: "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos." Cultivar o carinho da amizade, a solidariedade, o cuidado recíproco, importar-se com os outros: ter amigos quando se sabe ser si mesmos é um presente.



Quinto arrependimento: "Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz." Esta frase sinteza todas as outras. A pergunta de fundo é: mereço ser feliz? Apesar de tanta gente correr atrás da felicidade ou sonhar com ela, será mesmo que assume de fato o desafio de querer ser feliz enfrentando o que é preciso fazer para chegar lá? Não será que a busca da felicidade não passa muitas vezes de uma peneira para tapar a realidade de quem espera que as coisas lhe caiam no colo?





Quer ser feliz? Então levante o traseiro da cadeira e se mexa. Abra sua cabeça, se engaje em seu processo de autoconhecimento, estude, trabalhe e não se assuste com a poeira do caminho. Aos que não estão a fim de todo esse trabalho, sobra o sofá, o controle remoto e o BB, a vida dos outros ao vivo.





Da nossa vida somente nós temos responsabilidade e somente nós podemos mudar. Cuidar dos outros é bonito, mas quando serve para ocultar nosso Eu, cuidar dos outros é péssimo. Amar é lindo, mas quando serve para desviar a atenção da insatisfacão que sentimos dentro de nós, amar é enrolação. E assim em diante.





Força, gente, que a vida é agora.
 

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