"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Natal e o sentido de família

Adriana Tanese Nogueira

Está chegando o Natal e começa toda aquela conversa sobre família e união, harmonia e paz, saúde e alegria. Todos os anos a mesma coisa… Cada um dos termos acima são desejados pela completa totalidade da população mundial, e entretanto… o que temos?



Nas entrelinhas dos sorrisos encontramos a hipocrisia.

O preço da harmonia é o fingimento e sua inevitável consequência, a neuróse. A união é muitas vezes confundida com a dependência e a incapacidade de respeitar a si próprios. A alegria só é possível a custa de muito fechamento de olho. A saúde, enfim, é difícil de se manter nessas condições.





Como é que todos desejam a mesma coisa e esta parece tão difícil de se conseguir? Enquanto se busca a convivência acaba-se num emaranhado de faz de conta e de mentiras que têm raízes naquelas ditas a si mesmos. É preciso crescer. O sonho dourado da criança que vive na fantasia do aconchego familiar com as luzinhas de Natal brilhando no céu estrelado da casa paterna há de ser superado.





Todo o ano repete-se a novela e a cada ano enterram-se verdades e afogam-se sentimentos. A união ao custo do silêncio do que nos é mais importante, como por exemplo de nossa personalidade e valores, provoca tanto sofrimento e baixa autoestima que quem tem fígado para encarar isso se dá conta que é inútil.





E tudo acontece porque queremos manter em vida um ideal e fechamos os olhos à realidade, a singela dura realidade. A sapo difícil de engolir tem duas caras: por um lado, a família é um conjunto de indivíduos que podem não ter muito em comum, apesar da genética; por outro, amá-los pode acabar significando enterrar-se na falta de amor próprio.





Pais com personalidades diferentes, bagagem cultural e psicológica diversas darão vida a filhos bastante mesclados, os quais, por sua vez, nascem já com uma determinada tendência de personalidade. Ninguém vem ao mundo como “tábula rasa”, como uma lousa sem nada escrito nela. Crescer juntos, como muitos casos demonstram, não é garantia de união, lealdade e amor.



Os laços de sangue, tão importantes no passado, como na era dos clãs e ainda hoje no meio mafioso (onde família é a chave de todos os negócios), é um conceito antiquado e desviante. A verdade é que famílias podem ser o abraço amoroso que acolhe e protege como também a corda que enforca o desenvolvimento psicológico, social e intelectual de seus membros.





A verdadeira comunhão não está no sangue (apesar de poder ser encontrada lá também). O irmão é aquele com qual podemos nos abrir e nos sentir acolhidos e compreendidos - seja ele quem for. Assim, o sentido de família, aquele que cada um de nós precisa encontrar - se já não o tiver encontrado - está no reconhecimento de quem somos.





Evidentemente, cada um de nós tem suas idiosincrasias e cada pessoa pode ser vista por diversos ângulos. Mas tem um que nos faz melhor, um que nos mostra em nossa beleza e promessa interior. Quando se encontra uma pessoa que enxerga isso, ela nos permite ser isso, potencializa nosso lado mais elevado. Por sua vez, sua visão só é possível porque os olhos vêem o que já conhecem. Eis, portanto, que temos encontrado alguém que pertence à nossa família espiritual.





Pessoas assim podem estar em qualquer lugar do mundo e podem partilhar conosco alguns momentos ou muitos anos, não importa. A existência de gente na qual podemos nos espelhar e que se espelham em nós é o que dá alento e alegria. Saber que há pessoas, variadas e coloridas, mirando a mesma nossa direção é o que provoca saúde e harmonia. A união de valores e busca é o que faz a verdadeira união, o que permite o espaço acolhedor e o abraço amoroso. O resto que caia ao chão, como máscaras gastas e olhos embaçados.

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