"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

domingo, 25 de dezembro de 2011

O direito de dizer não

Adriana Tanese Nogueira


Por não saber que elas têm o direito de dizer “não” muitas pessoas, jovens e menos jovens, acatam o que recebem, sem discriminar e sem escolher. Uma das razões que justificam a “dificuldade” de dizer “não” é que não se aredita que esse seja um direito. Talvez este seja o nó mais doloroso no qual cada um se amarra: por um lado tem-se dó negar ao outro nosso “sim”, por outro, não se acredita nesse direito.



Somente quem sabe dizer “não” é senhor de si mesmo, está no domínio de sua vida, aliás, objetivamente tem uma. Os que só dizem “sim” são como sem-tetos, não possuem um espaço individual que eles podem organizar e mobiliar conforme preferirem, onde convidar os amigos e viver do jeito que querem. Os sem-teto incapazes de dizer “não” prostituem-se para ter um abrigo da solidão e do abandono no qual eles mesmos se jogaram, pois quem só diz “sim” é inimigos de si mesmo.



Quem se nega o direito de dizer “não”, perdeu a vida digna e amputou-se o direito inalienável à uma existência própria. Ser uma pessoa significa ter preferências e portanto excluir outras pessoas, coisas, assuntos e opções da própria vida. Somente o Todo topa tudo. O indivíduo topa só o que lhe diz respeito e o resto fica fora. Sem essa atividade corajosa de distinção e discriminação não há individualidade mas neurose.



Muita gente tem vergonha por não caber nos estereótipos populares e na ânsia de esconderem de si e do mundo essa mancha dizem “sim” à repetição com um sorriso de orelha a orelha. Estas pessoas estão sempre disponíveis, a custa de seus próprios interesses. O que parece ser amizade é na verdade disfarce (do qual os outros “corretamente” aproveitam) para despistar sua verdade interior: elas são diferentes, elas são pecadoras.



Indivíduos assim não atinaram, e ninguém nunca lhes disse, que há um direito básico universal: aquele de dizer “não”. Tem-se o direito a escolher diferente do pai, do amigo, da mãe e do irmão. Tem-se o direito a não gostar do que muitos gostam, a preferir outros passeios e pensar de outras maneiras. A verdadeira e saudável diversidade só se alcança após ter conseguido dizer, forte e alto, NÃO.
 

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