"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 22 de outubro de 2011

Dependência boa e dependência ruim

Adriana Tanese Nogueira



Num tempo de exaltação do ego, dependência é uma palavra "feia". Todos querem se orgulhar de serem independentes, sobretudo no que diz respeito às questões sentimentais. "Você não me ama? Ah é?" "Nem eu amo você, nunca amei e não estou nem aí...." Esse tipo de coisa. O ego é aquele sistema psíquico que baseia seu poder na percepção de sua própria independência. Independência da mãe e do pai, dos amigos, da mídia, da escola, do governo, independência de tudo. Ser independente é para o ego a condição de sua existência. Como dar conta então da dependência que surge toda vez que amamos?

Damos conta da seguinte forma: distinguindo entre dependências boas e dependências ruins. Há relações que nos deixam esgotados, há outras que nos fazem sentir mais fortes.

Há relações que requerem investimento contínuo e de mão única, outras em que as duas pessoas crescem e desabrocham. Existem relacionamentos que fazem com que nossa vida pessoal fique para trás, que percamos oportunidades e outras relações, que tiremos o foco de nós e o coloquemos somente na outra pessoa.



Amar é um forma de dependência, porque não só não escolhemos a quem amar como também não temos poder de deixar de amar. É ilusão de um ego infantil a de que se pode decidir deixar de amar. Ou não era amor de verdade e o sentimento simplesmente passou, ou é uma fantaisa que quer abafar a dor que a relação provoca. Quando amamos, a dependência surge pelo fato que não podemos ser completamente felizes sem a outra pessoa. A dependência positiva do outro não impede de viver e de viver bem. Podemos ainda assim ter prazer de viver, mas não aquela felicidade profunda que daria a presença do outro. Ao amar alguém dependemos da outra pessoa no sentido de que dependemos de sua existência, de seu bem estar, de suas opiniões, de seus sentimentos e de sua presença. Numa relação positiva, não há nada melhor do que isso: ter um ao outro e estar um pelo outro.



Esse tipo de dependência nos obriga a prestar atenção ao que queremos e a como queremos. Em relacionamentos equilibrados, o outro é visto como Outro e não como um pedaço de si. Consequentemente, se tende a ser e a dar o melhor de si, justamente por amor, por querer o bem. Conta-se com o outro e confia-se no ponto de vista do outro, apesar de vermos suas limitações e desafios. Amar é uma forma de cegueira inteligente. O amor é cego do ponto de vista do ego porque não é ele quem fez a escolha, mas o amor é inteligente porque enxerga o outro como Outro.



Nas dependências ruins, peças de um quebracabeça se unem no anseio de alcançar sua própria inteireza. Muitas pessoas estão deprimidas e esgotadas com a vida e pensam em encontrar alguém que irá dar-lhes afeto e companhia. "Irá dar-lhes...": a dependência negativa é essa daqui, baseada no projeto de receber antes mesmo de pensar em dar e no que dar. Há outras pessoas que dão em função de receber, dão dinheiro e/ou atenção para receber o mesmo (geralmente, criando uma dependência que poderia não ter existido).



Dependência ruim é a de casais que não conseguem fazer coisas separados, ou até mesmo passar umas horas sem se falar ao telefone. Com o tempo, a dependência se fortalece na exata medida em que ambos se enfraquecem como indivíduos.



Concluindo, podemos definir a dependência boa como aquele vínculo aprimora e enriquece os indivíduos em suas individualidades, e a dependência ruim como aquela relação que aprisiona o desenvolvimento individual e castra a subjetividade de cada um.

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