"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Saber agir


Adriana Tanese Nogueira



Os que, para agir,

esperam sempre que tudo seja perfeito,

jamais realizarão alguma coisa.









A insistência na busca pelo momento certo para tomar uma decisão necessária perde aquele momento em que a brisa chega e enche as velas, permitindo o início de uma nova jornada. A teimosia na idéia de que hão de haver determinadas circunstâncias antes de fazer o que se sabe tem que ser feito, é uma forma indireta de declarar não só a própria insegurança, quando efetivar a auto-sabotagem. Indecisão é uma experiência comum, alguns são mais outros menos indecisos. A única certeza da indecisão é que quanto mais ela persiste menores as chances de algo realmente vir a acontecer.





A indecisão alimenta a inércia. Na física, para mover um objeto é preciso de uma força

igual ou superior à sua massa, que é energia inerte. O mesmo vale em psicologia, o hábito produz "massa", quanto mais arraigado o hábito maior a força necessária para tomar a atitude que leva à mudança. Quando é preciso um evento traumático para que a pessoa decida algo é porque ela está há muito tempo vacilando na indecisão. Esse vacilo provocou o aprofundamento do problema, levando à gravidade de suas consequências.







A inércia engorda a covardia. Quanto menos se age mais se teme dar o primeiro passo. Menor é o hábito a tomar decisões, maior é o medo de fazer algo diferente. O movimento que parece pequeno para o atleta é vivenciado como avassalador para quem vive sentado no sofá vendo TV. Indecisos crônicos são como obesos. O potencial para a mudança está estocado em gordura solidificada, prejudicial à saúde psíquica. Movimento é vida, tudo o que vive se mexe. Quanto menos nos mexemos mais estamos próximos à morte. Somente o morto está parado. Movimento psíquico é tão necessário quanto o físico e significa: entender, perguntar-se, mudar de idéia, clarear, discernir, duvidar, sacudir costumes, rever medos e limites... A covardia fortalecida pela falta de atitudes produz um círculo vicioso, até que um evento grave, sério e, muitas vezes, irreversível obrigue a fazer algo, geralmente quando é tarde demais para que o final seja realmente feliz.





O medo do novo e do diferente é inerente aos seres vivos. Animais e humanos sofrem o mesmo temor. Ter medo do estranho não é o problema, mas ficar no medo sim. Permanecer paralizado na insegurança e, ainda por cima, encobrir a verdade com argumentos fictícios é problemático.





Duas armas são usadas para a auto-sabotagem na hora de agir. Há as racionalizações que pessoas que se prezam lógicas e racionais gostam de usar. E há os limites circunstanciais que as demais consomem com desenvolutra. Racionalizações são raciocínios mascarados de lógica cuja função é esconder a realidade. Confundem com sua aparente verdade, parecem convencer e convencem os miopes de intelecto. Os limites circunstanciais são diversos. Uma pessoa não decide fazer algo porque "não tem dinheiro", o que quer dizer que não quer parar de gastar dinheiro em outras coisas para canalizar os recursos financeiros segundo um novo projeto. Ou então, pode ser que "não seja o momento certo", porque agora tem antes que terminar isso ou iniciar aquilo, esperar a esposa ou o marido fazer isso ou aquilo, os filhos cresceram, a promoção chegar, o Natal passar e assim em diante.

O resultado é o mesmo. Perder o momento de agir enfraquece a vontade. O momento certo de agir se sente não se pensa. A partir da elaboração intelectual de uma série de condições, uma pessoa chega à conclusão que tem que tomar determinada atitude. Em seguida, ela vai começar a sentir crescer dentro de si essa necessidade (por sua vez, a elaboração também surgiu de um sentir) até chegar a um ponto em que deveria entrar a ação. Se a ação for postergada demais, todo o projeto murcha, como um balão que espera por subir ao céu mas é bicado pela ave negra da indecisão.





Quando se sabe que se está adiando demais? Quando se percebe que a força está cedendo lugar à covardia. Quando dúvidas tomam a dianteira, quando a pessoa se torna "perfeccionista" demais, detalhista demais, quando enfim, ela se enrola e faz de conta que está sendo "responsável", e "cuidadosa" então a verdade derradeira é que ela está perdendo o vigor daquela vontade original que a levou a pensar em agir, a querer agir. Falta-lhe caráter para assumir os passos que sua evolução interior lhe requer. Falta coragem de viver.
 

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