"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Seriam os homens melhores do que as mulheres?



Adriana Tanese Nogueira





Com relação aos meus posts sobre perversidade feminina, fizeram-me a pergunta acima. A resposta a esta pergunta é, claramente, não. "Claramente" porque o mal está equamente distribuído entre todos os seres humanos e não há razão para acreditar que as mulheres seja por natureza melhores do que os homens.





O que acontece é que dependendo do lugar social que a pessoa ocupa, sua maldade será expressa de forma aberta ou dissimulada.

Não era o Carnaval originariamente uma forma de violar as regras sociais e, consequentemente, de demonstrar a própria insatisfação com a injustiça, mas de forma lúdica? Os negros oprimidos não faziam o papel dos brancos opressores por um ou cinco dias? O Carnaval surgiu como uma forma disfarçada de manifestar a própria rebeldia que de outra forma e em todos os outros dias do ano havia de ser mantida calada e escondida, pena a morte.







Todo o oprimido aprende desde cedo a tomar cuidado com o que fala e com suas ações, assim como todos aqueles no comando social sabem de seu poder e o usam, até o ponto de nem se aperceber de seu abuso. Quem não tem limites tende a se tornar prepotente, abusivo e desrespeitoso. Basta observar qualquer criança mimada, quanto menos limites ela terá mais insuportável ela se tornará. Imaginem essa criança como um homem adulto, fisicamente forte e sadio, como poder social e autoridade... É preciso muita sabedoria, humildade e sensibilidade para que ele não abuse do poder que tem à disposição. Sabemos o quanto esse delicado equilíbrio é difícil de atingir e de manter.





Pouquíssimas mulheres na história encontraram-se em situação parecida, pois seu lugar social somente raramente foi o de líder. Nem por isso, as mulheres não ambicionaram o poder e o prestígio. Mas, se a um homem é socialmente permitido pegar em armas e derrubar um rei para fazer outro, não ocorreu o mesmo com a mulher. Para subir no lugar da autoridade ela teve que usar de outras armas: sedução e artimanhas.





Machiavelli é o "inventor" das artimanhas do reinar. Nelas um comandante usa conscientemente de certos subterfúgios ara obter determinados resultados porque nem tudo pode ser conseguido através da ação direta. No caso da mulher, a situação é mais complexa pois ela não só ela pode desejar alcançar certa posição ou poder de decisão, como seu lugar social é o de submissa. Um homem pobre é submisso à autoridade da qual ele depende mas tem sob si mesmo a mulher e os filhos. Portanto, artimanhas e sutilezas se tornaram ao longo da história feminina não simplesmente um instrumento de ação mas uma forma de ser. Confundem-se com sua própria personalidade.





A duplicidade que nasce dessas circunstâncias chega a ser embaraçosa. Por um lado, o modelo social educa as mulheres a serem "boazinhas e bonitinhas", o que elas acatam com prazer porque 1) é agradável sentir-se assim e 2) elas querem ser aceitas pelo grupo ao qual pertencem. Mas paraa que ela consiga o efeito desejado, ou seja para que ela entre na caixinha que lhe é reservada pela mentalidade coletiva, ela deve rechaçar partes de si.

Tudo o que não cabe no estereótipo é banido da consciência dela. Raiva, inveja, agressividade, rebeldia, e até tristeza. Uma vez que os conteúdos proibidos são afastados eles não somem simplesmente, mas eles continuam vivendo no plano inconsciente.





Quanto mais inconsciente for uma dinâmica psicológica quanto mais ela se tornará forte. Experimentem trancar um quarto de sua casa, não o abram nunca. Após um certo tempo todo tipo de fantasia negativa começará a surgir a respeito dele. Façam a prova e verão. Até barulhos estranhos começarão a ouvir... O que estará acontecendo é uma projeção dos conteúdos inconscientes que estão "escondidos" assim como o conteúdo daquele quarto, inaecessível à consciência mas nem por isso inexistente.





É por isso que as mulheres podem ser tão nefastas. A violência dos homens é explícita. A das mulheres é sutil e "invisível". Homens pegam um revolver e atiram. Mulheres inventam a maçã envenenada, tão bonita por fora quanto mortal por dentro. Essas são as artes do masculino e do feminino. Uma mulher com animus dominante poderá ser cruel à moda dos homens. Assim, homens com anima no comando agirão como a madrasta de Branca de Neve.





Portanto, homens não são melhores do que mulheres, é uma questão de diferentes formas de expressar-se. Ao homem é socialmente permitido dar murros em paredes, gritar, xingar, ser agressivo, explodir. Às mulheres "cabe" ter a paciência e o acolhimento necessários para acalmar maridos, irmãos, pais e filhos... Mas e elas? Serão santas que não precisam desabafar ou não ficam com sentimentos indesejados dentro do peito? Claro que não. Elas sentem tudo igual, em intensidade ou forma diferente conforme a individualidade de cada uma, mas reprimem tudo para serem "boazinhas e bonitinhas".





Esse estereótipo feminino, no final das contas, serve a quem? Não a elas porque o gosto de ser boa e bonita é agridoce. Custa muito caro. Serve ao sistema. Basta olhar para uma família: quem segura as pontas afetivamente? A mulher. Quem aguenta o marido chato, alcólatra? A mulher. Quem administra a relação entre filhos e marido e os próprios filhos e suas crises? A mulher. Quem acalma? A mulher. Quem acolhe? Também ela. EM GERAL, é sempre a mulher.





E tudo isso não tem um preço...?





Hoje, muitas mulheres estão em crise e não são mais capazes de fazer o bem que faziam antes (mesmo naquelas condições). Elas estão como que lotadas internamente de tantos conteúdos negativos que não aguentam mais. Nem por isso conseguem fazer algo de bom para si mesmas. Porque foram tão reprimidas e estão tão amarguradas só conseguem replicar amargamente o que conhecem. Estas mulheres são as mais duras com as filhas, e as mais repressoras e insensíveis.





Conclusão:

1) Existe o positivo e o negativo e eles nem sempre são valores absolutos, mas dependem de entender o sistema que os considera assim;

2) O que é considerado "negativo" é reprimido para preencher o papel desejado;

3) O reprimido sobrevive no inconsciente e se potencializa na medida em que é reprimido; sua tendência é vir à tona, daí nova repressão;

4) O que não pode ser expresso diretamente é manifestado indiretamente. A maldade indireta é perversidade e malícia, fofoca e traição pelas costas.

5) O modo do oprimido de expressar seu mal estar é indireto. As mulheres são oprimidas, logo seu negatividade é expressa nas entrelinhas, entre um sorriso e outro.

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