"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

domingo, 1 de maio de 2011

Anima e Animus - Nossos pais dentro de nós

Adriana Tanese Nogueira




C. G. Jung descobriu que há uma figura psíquica que se coloca entre o mundo do ego, onde reside nossa identidade, e o mundo desconhecido e inconsciente, o além do ego. Esta figura chama-se Anima nos homens e Animus nas mulheres.





Este personagem da psique é importante por dois motivos: primeiro, porque nos influencia na escolha do tipo de indivíduo do sexo oposto para o qual vamos nos sentir atraídos “instintivamente“. Segundo, porque define o modelo de relação que teremos com o mundo dos afetos (para os homens) e com o mundo das idéias (para as mulheres). Devo frisar, entretanto, que não se trata de uma predeterminação ou um destino, mas de uma tendência que se não se tornar consciente, ou seja, se a pessoa não se conhecer, amadurecer e evoluir, vai moldar boa parte de sua vida.





Anima e Animus, primeiramente, assumem as imagens de nosso pais. O menino, sendo homen, tenderá a identificar-se - a nível de ego - com seu pai, e terá a mãe vinculada à figura interna da Anima. A personalidade da mãe real marcará as principais características de sua Anima, ou seja, de sua forma de lidar com as mulheres e com os sentimentos.







Mães distantes, frias, ambíguas, traiçoeiras terão filhos homens que não se entregam aos sentimentos, que os temem e evitam - apesar de poderem estar desesperados por eles. Mães manipuladoras e intriguentas terão filhos que se utilizam dos sentimentos para manipular suas companheiras e quaisquer outras relação afetivas (por exemplo, os filhos), sendo ambíguos e contortos na sua forma de amar. Mães moralistas e medrosas estarão banindo de seus filhos o atrevimento e a confiança na vida. Mães boazinhas e condescendentes terão filhos que buscam o mesmo tipo de disponibilidade e conforto em suas mulheres.





Por que nós seres humanos somos muito mais do que o nosso ego pode imaginar, há outros fatores que influenciam na escolha da parceira, e alguns deles eu tenho observado. Por exemplo, tenho visto que um homem pode “instintivamente’ buscar uma mulher aparentemente oposta ao modelo feminino que sua mãe personifica. Isso não quer dizer que o que escrevi antes está errado. Se aproximarmos o olhar, veremos que, por exemplo, o homem com mãe manipuladora e intriguenta, casou com uma boazinha e simples, porém nela encontrou a mesma disponível atitude a amá-lo e considerá-lo importante como sua mãe fazia. Ou, o homem com a mãe traiçoeira encontra uma mulher confiável porque há outras partes dele que lhe são desconhecidas que atuam, mas na hora de criar uma relação, ele irá tratá-la como se ela fosse aquela mesma mulher que traiu tantas vezes suas expectativas de amor.





É preciso observar as realidades individuais e de uma maneira holística para realmente saber o que se “perdeu” e o que se “manteve” no novo modelo. As relações são feitas de inúmeros “encaixes” em diferentes níveis. Por isso, para realmente entendê-las, é preciso abrir mão da pressa e da superficialidade.





No caso das mulher, o Animus atua de forma parecida. O pai representa a visão de mundo, as idéias, a ideologia que toda pessoa, consciente ou não, tem a respeito da vida. Como, infelizmente, são poucos os pensadores, filósofos e reflexivos, as idéias numa família tendem a ser padronizadas e/ou rígidas. Como já devem ter notado, mudar de mentalidade é muito difícil, requer no mínimo eventos fortes - que como terremotos sacodem as fundamentas - e/ou uma forte personalidade e madura. Geralmente, prevalecem os lugares comuns. A mídia os reforça e a escola os consagra. Afinal, quem são os homens como indivíduos? São pessoas que, basicamente, trabalham para sustentar sua família. Isso requer muito tempo e energias, não sobrando para outras atividades, uma delas pensar sobre a vida. As filhas desses homens ão ter uma forma de pensar baseada na repetição de lugares comuns - que sejam lugares comuns de seu bairro ou classe social ou raça, sempre se trata de banais lugares comuns. Não a caso, as mulheres tendem a ser as mais conservadoras em todos os setores, perceberam?





Uma ideologia estanque quando internalizada desde pequenina inviabiliza a troca fresca e criativa com o mundo interior, isto é, com o que a mulher é dentro de si, com sua originalidade, inovatividade e alteridade. Inviabiliza por dois motivos: primeiro, porque introjetar um modelo masculino obtuso torna impossível estar sensíveis à novas idéias. E segundo, este modelo solapa a auto-confiança em qualquer novidade interior. A auto-estima da mulher estará vinculada à aprovação por parte desse modelo (o pai interior) que pelas características que apresentamos irá aceitar somente o que se conformar a ele. Daí a enorme dificuldade que as mulheres têm em de fato se colocar e dizerem o que pensam!





Voltarei sobre esse assunto em outra ocasião, pois não quer me delongar aqui. Mas ele é de enorme importância, como espero ter conseguido mostrar a vocês.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...