"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os "te amo" que se perdem ao vento

Adriana Tanese Nogueira

Imaginemos a situação em que uma pessoa se sente, no fundo de si, em dívida para com outra. A dívida nasce da percepção de não estar dando à outra o que esta merece, ou não estar retornando o que se recebeu, ou, enfim, por não cumprir o que se prometeu. Esta outra pessoa é sua esposa (ou seu marido). O "te amo" funciona como uma forma de pedir desculpas, manter a relação e... se assegurar um pouco de paz de consciência.







Mas, se a pessoa em questão se acomodar na falação do "te amo", suas intenções originais escorregam rapidamente para seu lado sombrio. Quanto mais a situação permanecer inalterada, ou seja, o "te amo" continuar gerando "conforto emocional" mesmo que por uns momentos, mais difícil será passar à fase de demonstrar o amor com os fatos. É desta forma que se arrastam relacionamentos que provocam confusões: coração e mente se contradizem.





Pessoas ingênuas e sonhadoras - como muitos nos seus primeiros 30-40 anos de vida (dependendo de cada um) - tendem a acreditar nas palavras. É normal quando elas correspondem ao que se sente. No início de uma relação, a emoção do encontro toma o controle de todos os aspectos, e a falta de conhecimento da outra pessoa, o qual só vem com a convivência, induz a dar crédito ao que se ouve. Afinal, só se ama quando se confia.





Com o passar do tempo, pode-se descobrir que há uma cisão entre as palavras que a pessoa emite e os fatos que ela apresenta. Ou, ainda, entre o sentimento que se sente dentro por ela e os fatos que dela se observam O "te amo" que expressa uma verdade do sentimento não necessariamente traduz uma verdade de vida. Uma coisa é sentir e ser sinceros com o que se sente (muita gente nem isso consegue fazer), outra coisa, é transformar esse sentir numa realidade de vida.





A trava que ocorre aqui é aquela que uma pessoa encontra quando descobre que para manter uma relação de amor ela precisa assumir algumas mudanças em si e em seus comportamentos. E, simplesmente, no fundo, ela não quer. Não quer se dar ao trabalho. Porque tudo isso custa esforço, subverte hábitos, questiona crenças, arranca do comodismo.





Amar é um trabalho. Significa que uma relação (de verdade) não pode ser usada como um meio de gratificação pessoal. Para isso há parques diversão, drogas, filmes, viagens, carros poderosos e todo um rol de opções que servem como muletas para aguentar a dor do viver. O amor não cai nesta categoria. Talvez é por isso que tantas pessoas hoje "ficam". Enquanto muitas outras enchem o ar à sua volta de "te amos", que se assemelham às produções áreas espontâneas do corpo, com a diferença que cheiram melhor. Entretanto, ambas possuem o mesmo "valor de mercado": zero.

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