"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O amor é um comportamento

Adriana Tanese Nogueira

Que muitos sentem amor profundo e verdadeiro não duvido. A questão é que não sabem expressá-lo e na medida de sua passividade nas palavras e nos gestos, o amor que sentem é como o tesouro depositado num cofre do qual se perdeu a chave. Uma vez que não está disponível para o proveito humano, ele não existe.





O exercício de encarnar o amor em cada momento, em cada escolha, em cada comportamento - e se não em cada um deles, na maioria - é indispensável para a evolução da espécie humana. De nada adianta amar um filho se não lhe se mostra com os fatos o que é amor. Amor é uma experiência viva antes de ser um conceito. Primeiro se vivencia algo que em seguida é identificado com o sentimento do "amor".



Vejo pais se queixarem pela falta de amor dos filhos: mas será que estes não estão devolvendo o que receberam? A famosa frase "Mas eu trabalhei tanto para que você tivesse o que você tem" não significa muito nos ouvidos da criança. Nem o fato de a família parecer ter sido tão unida e amorosa: as crianças absorvem sempre a sujeira que foi jogada por baixo do tapete.



Também, o por quê seus pais estavam fora de casa tanto tempo, porque a deixaram só ou na escolinha durante o dia inteiro, uma criança não pode avaliar. Ela só sabe que não estava com seus pais. Na cabeça de uma criança não existem conceitos relativos a pagar contas, trânsito, preocupações. Muito menos ela pode compreender que seus pais gostariam de brincar com ela, de ser amáveis e disponíveis mas não conseguem, têm suas próprias travas oriundas de sua infância ou problemas atuais. Uma criança só sabe que seu pai ou sua mãe não estavam emocionalmente disponíveis quando ela precisava deles. Esta é uma memória que se crava na alma e que se manifesta anos depois na vida.





Amor só existe quando é visível, concreto e palpável. Amor tem sabor, cheiro, textura. Amor é um bilhete, uma ligação, uma lembrança, tempo e espaço, é um doce, um sorriso, uma festa. Uma escolha difícil para um bem maior. Amor é proteção, atenção, cuidado, educação. Amor precisa de humildade, disponibilidade, dedicação. Fora destas condições, sejamos honestos: não há amor. Pode haver uma intenção de amor, um desejo por aquele amor, um sonho guardado no fundo da alma. Mas, fica para outra vida. Nesta e agora, não há amor. Há sim, outros interesses, conflitos e vantagens que têm a preferência, que são mais fortes e importantes na vida da pessoa do que amar. E cortemos por aqui as conversas patéticas sobre "eu te amo..." quando nada comprova esta afirmação.





Amar é empenhativo, é um esforço, é um investimento. Custa caro e requer o mesmo trabalho que se ame um filho ou outra pessoa, ou até um cachorro. Precisa sair da zona de conforto, sair do ego e de suas vantagens. Pode haver simpatia, sonho vago e dourado, mas não há amor. Sem o comportamento apropriado, nada de amor.





A relação a dois é mais complicada daquela de um adulto com uma criança. No primeiro caso, a dedicação só funciona quando é recíproca, mas no segundo ela deve partir do adulto. É ele quem dá o passo, estabelece o exemplo, "mostra como se faz". É assombrosa a quantidade de pais (e também de mães) que não atinam para o fato que filhos precisam ter tido experiência de amor para retornar o que depois os pais esperam deles. Gerar, parir e criar não basta. Mamíferos de todas as espécie sabem fazer isso. A espécie humana precisa de modelos de comportamento concreto para entender a palavra "amor" e saber então reproduzi-la na prática.

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