"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 18 de abril de 2009

Crise


Passar por uma crise é experimentar o que significa morrer e renascer.

A palavra sânscrita para crise é Kri ou kir e significa “desembaraçar”, “purificar”, “limpar”.

Toda situação de crise para ser superada exige uma decisão. Esta marca a trilha nova e uma direção diferente por isso a crise é prenhe de vitalidade criadora; não é sintoma de uma catástrofe eminente, mas é o “momento crítico” em que a pessoa se questiona radicalmente a si mesma seu destino, o mundo cultural que a cerca e é convocada não a opinar sobre algo, mas a se decidir acerca de algo. Sem essa decisão não há vida. Idéias, nós as temos. Mas decisões, nós a vivemos. Por isso a situação de crise é antropologicamente muito rica. Não constitui uma tragédia na vida, mas sua pujança e regurgitamento. É oportunidade de crescimento. Não é perda do chão debaixo dos pés, mas um desafio que esse chão vital lança para uma evolução ou definição melhor.

A crise não nasceu da descrença, mas do agudo sentimento de uma inadequação, provocado pela esperança exigente de um bem possível. E esse possível faz um apelo globalizante para toda personalidade e lhe exige um engajamento radical. Sem isso a crise jamais ser superada, mas sempre protelada.

Crise, portanto, é uma descontinuidade e uma perturbação dentro da normalidade da vida provocada pelo esgotamento das possibilidades de crescimento de um arranjo existencial. A crise é um processo normal de todos os processo vitais. Ela emerge de tempos em tempos para permitir a vida permanecer vida, poder crescer irradiar.

A crise não é um mal que sobrevém interrompendo o curso da vida. Ela pertence ao próprio conceito de vida de história. Tanto uma como outra (vida e história) não possuem uma estrutura linear, mas descontínua. Pertence a essência da evolução o momento e o ponto crítico e a crise. A evolução acumula energias, atinge um limiar, a partir de onde se verifica uma convulsa: dá-se a passagem de um para outro nível mais alto de vida.Há momentos na história que, para continuar, é preciso romper, entrar em processo de convulsão, de instabilidade e radical questionamento, onde não se muda algo no mundo, mas o mundo todo muda. A crise é este momento angustiante, mas profundamente criativo, que permite o evoluir histórico sobre outras bases e com outros valores.

Pertence à crise o aspecto dramático e a sensação da perda dos pontos de orientação. Por isso se impõe a coragem de saber esperar o desencantamento da água turva... Há momentos que para subir, se faz mister descer e entrar em crise. E para permanecer o mesmo, precisa-se mudar. Porém, se compreendermos que a crise é o nicho generoso onde se prepara o amanhã melhor e a penumbra que antecede o nascer do sol e ai ficamos firmes, aceitando o desfio e esperando contra toda esperança, então temos a oportunidade de amadurecer e de dar um salto para dentro de um horizonte mais rico de vida humana e divina.

A superação da crise não se faz, comumente, pelo ativismo e pela excitação exterior, mas reflexão e mediação sérias, onde as forças se recolhem para uma decisão purificada e libertadora.

“Todas as coisas grandes acontecem na crise, no turbilhão.” Platão.
Fonte: Crise Oportunidade de Crescimento - Leonardo Boff

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