"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Luiz Fuganti - Sobre a Esquizoanalise



Transmitido ao vivo em 10 de dez de 2018


Essa 3ª Semana da Esquizoanálise foi uma jornada não para fazer história ou produzir memória de arquivo - e deixá-lo disponível para poder adiar o acesso a ele. Não para se juntar a mais um empreendimento cheio de boas intenções e vontade de mudar o mundo, e mostrar o quanto há de humanidade, humanismo, idealismo e voluntarismo do bem em nós, e choramingar mais do mesmo: um outro mundo melhor é possível! 
Não, definitivamente não! Nosso propósito é bem outro. É preciso inventar uma nova e implacável lente que faz rir até o cego da cegueira dos videntes! Um raio sobre os devotos e crentes de todos os tempos! 
Nessa jornada em que colocamos em foco a Esquizoanálise não apenas regamos uma visão, a visão do que somos de direito e por isso podemos nos tornar de fato! Potências de criar real! 
Somos ouvidores de vozes! Não vozes dos mortos, mortos-vivos, nem dos fantasmas que alucinamos - esses precisamos redimir e fazer-lhes as devidas honras fúnebres. Saber enterrar o passado é uma necessidade sem a qual o novo e a inocência se tornam impossíveis. 
Somos ouvidores de vozes. Mas vozes que sussurram do futuro, de um futuro que nos espreita, nos espera e faz sinal! 
 Mas se não temos olhos para ver nem ouvidos para ouvir nem mente para pensar, para apreender esse horizonte que já está aí, que sempre esteve aí - mesmo quanto dormíamos -, precisamos inventá-los! 
Um novo horizonte se apresenta à nós. Quem pode vê-lo? Ele não para de emitir sua luz, a luz vinda não de um um futuro que ainda vai ser, mas que é e jamais deixou de ser radicalmente contemporâneo de nosso presente! Porque não haveria outro futuro para as forças espontaneamente ativas que ainda podem nos atravessar! 
O caminho de um progresso ou evolução, que ainda sonham aqueles que ao longo das culturas humanas se perderam de si e se tornaram reativos, só faz proliferar a decadência da humanidade. 
Se nós seres humanos seguíssemos nesse caminho, não há dúvida, nos tornaríamos becos sem saída, pelo menos para a vida que segue sua expansão criadora! Mas haveria outra? Como essa que cultiva o futuro como um conformismo que opera na esperança dos impotentes, no sonho dos aleijados, e fantasiam com aquilo que, sem se darem conta, seu próprio modo de vida presente inviabiliza, pois são cúmplices do que supostamente combatem e pateticamente os aprisiona. 
 Esse é o futuro dos que não tem presente! Que de si se ausentaram sem sequer nascer como participantes no jogo dos deuses e do absoluto! 
Num diagnóstico mais apurado do presente, não há dúvida que a vida em nós vem minguando e nos abandonando, e isso quanto mais nos afundamos no atoleiro que nos impede de dançar e adiamos o combate mais visceral que acontece de dentro pelos modos e jeitos que estão apenas em nossas mãos, que são intransferíveis! Podemos tomar para nós a responsabilidade que jamais poderá ser de um outro qualquer? 
Ou a continuação necessária de uma evolução criadora da vida, ou a própria vida se inviabiliza e aborta a evolução de seres que não teriam mais o que dar, cujo solo secou e se tornou estéril. Um farol nos sinaliza do porvir! Um pôr-se a fabricar memória de futuro! 
Quanta indolência não nos atravessa ainda como uma espécie de epidemia que faz massa e embala multidões no sono das compensações? Onde se deposita toda nossa indolência e inércia atuais? Nossos bálsamos se dizem numa palavra: consumo! 
Mas consumo de coisas mortas, imagens opacas, sem espessura de tempo nem profundidade de movimento; discursos, narrativas, palavras e significados sem pensamento ou acontecimento; matérias e tecnologias reduzidas a sua dimensão extensa, sem força intensiva. 
O máximo de consumos mortos e o mínimo de consumo intensivo. Então somos talvez atualmente partes de formações sociais onde nunca consumimos tão pouca intensidade vital. Somos os mais avarentos no consumo de intensidades como fontes de alegria real! 
O que estamos consumindo agora nesse exato momento? E logo mais? e depois? Qual uso estamos fazendo do nosso tempo agora? e logo mais, momentos depois? Com quais movimentos preenchemos nosso corpo aqui onde ele se encontra ou se apresenta como sendo nosso, quais emoções brotam do nosso modo de desejar? Haveria ainda terra fértil que faría brotar emoções criadoras de nossos processos desejantes? 
Não temos mais tempo para os ofendidos e humilhados que seguem o calvário de suas vitimizações. É preciso libertar-se da gravidade! É chegado, mais que chegado o tempo de preparar-se para uma radical experimentação de si mesmo. 
Ou vamos continuar compensando nossos desejos esburacados preenchendo nosso tempo com os velhos bálsamos de consumo?
Abraços, 
Fuganti

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