"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Solidão

Ilan Brenman

Outro dia, li um artigo no jornal que me deixou curioso: “Maioria das pessoas tem dificuldade de ficar a sós com os seus pensamentos, diz estudo”. É uma pesquisa levada a cabo por um psicólogo da universidade da Virginia, nos Estados Unidos. Antes de começar o levantamento, o pesquisador imaginava que as pessoas poderiam usar os momentos solitários (e eram propostos poucos minutos de solidão!) para resgatar da memória as lembranças felizes e agradáveis. O psicólogo desafiou seu grupo de estudo a ficar 15 minutos sem a companhia de ninguém e os resultados foram os seguintes: 57% dos entrevistados afirmaram que não conseguiam se concentrar nessa pequena solidão, 89% disseram que a mente deles viajou e 49% não gostaram do experimento. Mas o mais incrível vem agora: 67% dos homens e 25% das mulheres disseram que preferiam levar choques a ficar sozinhos!
Olhando para o passado, consigo observar que o medo da solidão é tão antigo quanto o próprio homem. O filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), que abandonou sua vida laica para se dedicar na solidão monástica a Pensamentos (nome do seu mais famoso livro), já falava da necessidade dos jovens procurarem sempre o barulho, o agito, a correria da vida para não precisarem entrar em contato com seus pensamentos, porque, se assim o fizessem, ficariam de frente a suas limitações e angústias. Já Machado de Assis (1839-1908), no seu conto Teoria do Medalhão, desenvolve um diálogo entre pai e filho, no qual o genitor diz ao seu descendente para não andar nas ruas desacompanhado, porque a “solidão é oficina de ideias”. O pai, nesse conto de Machado, queria criar um filho medíocre, fórmula para uma vida ordeira e tranquila.
Parece que as tecnologias resolveram o problema da sensação de solidão que sempre habitou a alma humana. O problema está nessa ilusão da eterna companhia de um outro: fingimos que temos muitos amigos, fingimos que estamos muito felizes, fingimos que gostamos de tudo e de todos. E, de tanto fingirmos, acabamos aumentando nossa percepção da solidão. O mundo infantil sempre lidou melhor com esses momentos solitários. As crianças sabem usar a mente como ninguém quando estão sozinhas – criam castelos no ar, viajam a lugares distantes, inventam mundos paralelos em microssegundos. Precisamos prestar atenção se não estamos projetando nas nossas crianças o nosso medo atávico da solidão, já que o tempo inteiro queremos oferecer para elas uma distração para a mente. Talvez devêssemos proporcionar mais momentos de silêncio e calmaria para os nossos filhos, onde eles possam escutar suas próprias ideias e, com elas, transformar o mundo ao seu redor.

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