"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sobre o Estatuto do Nascituro - Suzana Herculano



E lá vem a bancada religiosa querendo se meter no útero alheio mais uma vez, agora com o requinte de meter também a mão no bolso de todos nós. As primeiras coisas que me vêm à cabeça são a vontade de ir me embora para algum país mais civilizado e a frase "Ô paiszinho de m...", que logo corrijo para "Ô gentinha de m...", mas então peço desculpas mentais aos brasileiros que não têm nada a ver com isso e me corrijo mais uma vez: o problema, como de hábito, é o PROSELITISMO. Não "a religião"; budistas têm todo o meu respeito e profunda admiração por não saírem por aí querendo forçar os outros a viver à sua moda. Judeus não acham que qualquer um mereça ser judeu, então também não saem por aí querendo converter os outros, apenas pedem respeito. Mas os diabos dos cristãos e dos muçulmanos tiveram suas religiões FUNDADAS no proselitismo, na pregação, construídas sobre o princípio da conquista e subjugação, à força mesmo, das outras crenças, quaisquer que elas sejam - ou não sejam. Uns fazem o diabo em nome de Jesus, outros fazem o diabo em nome de Maomé. Esses religiosos são soldados, e nós não nos achamos simplesmente por acaso no meio da guerra deles; nós SOMOS o terreno que eles querem conquistar.

Mas a minha mente, a minha liberdade de pensamento crítico, eles não conquistam.

De novo: quer ser religioso? Seja. Não quer fazer aborto? Não faça. Mas não venha se meter no meu útero nem exigir que eu pague pelas suas crenças. Defendo profundamente a diversidade e a liberdade individual de cada um de acreditar no que quiser. Mas não imponha sobre mim nem mais ninguém sua religião, valores e outras crenças. A liberdade de cada um termina onde a liberdade alheia começa.

E que dá vontade de ir embora para um país laico de verdade, isso dá. 

PS. Toda vez que escrevo sobre proselitismo faço uma "checagem mental" de paridade para verificar se divulgar ciência não seria, à sua moda, uma forma de proselitismo. E toda vez chego, tranquila, à conclusão de que não é: a essência da ciência é o pensamento crítico, e portanto divulgar a ciência é encorajar o próximo a ser crítico e chegar sozinho às suas próprias conclusões e valores de acordo com a SUA experiência do mundo. Ou seja: é o contrário da religião. Ciência não é crença, é um conjunto de hipóteses, eternamente testáveis e renováveis, baseadas na experiência do mundo.

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