"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Mal: o que fazer com isso?


Adriana Tanese Nogueira


A questão do mal é antiguíssima. A teologia desenvolveu no passado um ramo chamado teodicéia que visa justificar o mal, no sentido de explicar a presença do mal num mundo criado por um Deus supostamente bom. Este é um desafio que deve ter atravessado a mente de todo mundo num hora ou outra da vida. É um dos assombros mais atordoantes o de enxergar a quantidade de mal existente apesar desse nosso cristianismo estar há 2000 anos batendo na tecla da infinita bondade de Deus. Por não encontrar respostas satisfatórias a essa pergunta, inúmeras pessoas se afastam da religião ou se afastam do raciocínio, agarrando-se a respostas dogmáticas. Mas dogmas não são pessoais. A solução a esse dilema deve tocar a alma de uma forma pessoal para ter efeito.
Carl Gustav Jung foi o primeiro - e, que eu saiba, único até hoje - a se debruçar de
verdade sobre um assunto tão escabroso. O que ele fez, como bom cientísta, foi deslocar a conversa do plano da teologia para aquele da psicologia. Esta estratégia é sensata não só porque ele não era um teólogo como porque querendo permanecer do lado de cá do pensamento racional, aquele que indaga, pesquisa, compara dados, analisa e enfim processa informações de forma lógica, Jung não quis e não podia basear-se em dogmas para deles deduzir conhecimento. A ciência se fundamenta na experiência para dela extrair conhecimento, conhecimento este sujeito a mudança caso a experiência aponte para novas direções ao contrário dos dogmas que forçam a experiência dentro de idéias que permanecem imunes à realidade concreta. Mas cada coisa tem seu sentido, inclusive os dogmas religiosos. Não vamos porém ficar neles, agora.
Há um moralismo a respeito do mal. Todos os temem, dão as costas para ele e acabam por praticá-lo na surdina. As pessoas "boas" não gostam de falar do mal. Há quem ache que apontar o mal é fazer uma "critica", o que é "feio". Há outros que acham de mau gosto falar do mal porque devemos é falar de coisas boas, manter a mente "positiva". Todas essas pessoas obtêm o simples resultado prático de permitir que comportamentos maus corram soltos e livres poluindo suas vidas e as dos outros. A idealização da luz produz tanta cegueira quanto a perda da luz. Bem dizia Don Juan de Carlos Castañeda "Muita luz é como muita sombra: não deixa ver."
A verdade é que não se sabe o que fazer com o mal. Se fecha um olho e chamamos isso de ser "tolerantes"; se releva e nos dizemos "bondosos"; aguentamos e nos acreditamos "fortes". Na minha modesta opinião, tudo isso não passa de ignorância, tolice e medo. Medo de encarar, ignorância por não saber o que fazer uma vez encarado, e tolice por inventar contos da carrocinha quando não passamos de cúmplices. Afinal, pior de quem faz o mal é quem vê (ou percebe) e se cala. Não existe indiferença ao mal: ou se é a favor ou se é contra. Não tem meio termo nessa questão.
Saber reconhecer o mal e aprender a lidar com ele não deve, contudo, ser uma forma de nos erguer ainda mais alto no plano dos beatos. Já foi feito isso, continua sendo feito e com péssimos resultados, entre eles: hipocrisia e crueldade. A única forma de enfrentar essa fera é encontrando-a dentro de nós, reconhecendo-a a partir de nós. Opa! Isso é desagradável, não? Mas necessário. Somente este caminho permite sermos tão humanos quanto radicais. Humanos porque entendemos de fato os outros. Mas entender não equivale a aceitar, é porque entendemos como funciona e como se livrar dele que podemos ser efetivamente e humanamente radicais na hora da atitude.
Essas ambiguidades pervadem a vida de cada um. De inúmeras formas bem e mal estão entrelaçados nas relações com quem amamos, nas nossas melhores intenções, na nossa generosidade, no nosso ambiente de trabalho. Reproduzimos o mal e complicamos a solução quando fechamos os olhos e fugimos, amedrontados, covardamente nos escondendo atrás de argumentos e falsas bondades.
O que é o mal é uma questão filosófica e teológica que merece atenção. Mas nesse âmbito, não nos interessa saber o que é mal, interessa-nos viver melhor, na prática, no dia-a-dia. Sabemos do mal porque o reconhecemos: ele dói, tarpa as asas, prende, sufoca, inibe, dá medo, sabota, confunde, cria dúvidas... Aparece em pensamentos, sentimentos, sensações vagas, comportamentos, palavras, "esquecimentos", "distrações", e em muitas outras brechas.
Será que não está na hora de pegar o touro pelos cornos e enfrentar o assunto? Para quem está pronto este curso pode ser útil : A sombra em mulheres e homens, fruto de saber e vida, sangue e neurônios.





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