"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 13 de agosto de 2011

Seria o pessimismo mais inteligente?

Pondé no FRONTEIRAS DO PENSAMENTO





Pondé foi o conferencista do Fronteiras do Pensamento Porto Alegre 2011 na noite de 11 de julho. O filósofo brasileiro abordou a questão "Seria o pessimismo mais inteligente?"

Confira um excerto da fala de Luiz Felipe Pondé

Por que o pessimismo seria mais inteligente? Na realidade, não acho que o pessimismo é maisinteligente. Acredito que o pessimismo como dúvida com relação às festas que criamos porconta do nosso sucesso funciona como uma espécie de controle de qualidade. Ele funcionacomo uma contínua avaliação do que poderíamos chamar de uma dimensão de sombra de tudoque o ser humano faz.



Pessimismo e otimismo são atitudes filosoficamente necessárias o tempo todo quandoestamos analisando problemas. Principalmente perante a força, a fúria e a capacidade criativaque a modernidade tem em termos técnicos e que por si só traz uma hibris descontrolada.



Semana passada, conversei com uma jornalista da revista Elle sobre essa nova moda do chamado Unplugged Day, pessoas que escolhem um dia da semana para se desconectarem do mundo da comunicação, que é absolutamente necessário para girar a vida hoje em dia. Quem, de vez em quando, não percebe como acabamos presos nas ferramentas que temos para criarnosso próprio sucesso?



É quando percebemos isso que temos uma certa crise de pessimismo. Isso os filósofos já previram há dois mil e quinhentos anos. É a ideia de que pessoas muito conscientes do valor doque elas fazem podem facilmente se tornar pessoas extremamente perigosas, justamente porque crêem absolutamente nelas mesmas. E uma pessoa que acredita plenamente nela mesma é sempre um problema. Uma certa dúvida consigo mesmo me parece fundamental paranão virarmos monstros.



O pessimismo na filosofia e nas ciências humanas, no momento contemporâneo, tem umafunção de vigília, de um certo cuidado, porque quando o ser humano fica excessivamente apaixonado por si mesmo, apaixonado por suas potências, por suas capacidades, se torna perigoso.



É como a experiência moderna, que encerra em si mesmo e simultaneamente o avanço e o risco de sua técnica. Não significa abrir mão dos avanços técnicos. Me parece filosoficamenteingênuo e infantil achar que o debate se trata de “ser contra a modernidade” ou “ser a favor damodernidade”. Não se trata da ciência, trata-se do uso dela. A ciência é um método. Oproblema é que ela produz resultados de uma força experimental muito grande. Quando você associa ciência a intenções políticas, a intenções de descobrir como o ser humano deve ser, énecessário operar nesse equilíbrio que o senso comum chama de pessimismo e otimismo.





FONTE: Fronteiras do Pensamento 2011

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