"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Árvore da Vida



Luiz Felipe Pondé (Na íntegra: jornal FSP – 15.08.2011) 



A vida é feita de escolhas. Uma das escolhas mais sérias na vida é o modo como vivemos a vida, se como graça ou como natureza. Essa questão é uma alternativa clássica na filosofia cristã, mais especificamente de Santo Agostinho, morto no ano 430 d.C. Duas de suas obras, “Natureza e Graça” e”Confissões“, são essenciais para entendermos este problema.



(...)



Eu, que sou uma pessoa essencialmente atormentada pela melancolia (como dizia semana passada ao comentar outra recente pérola do cinema, o filme “Melancolia” de Lars von Trier), considero esse conceito de “graça” do cristianismo uma das maiores criações da filosofia ocidental, além do conceito de Deus, claro. A graça sempre me encanta e, no cristianismo, ela é o “modo” de Deus criar as coisas.



Toda vez que o mundo (e nós nele) surpreende, saindo de sua constante miséria interesseira, vaidosa, traiçoeira, monotonamente previsível, eu sinto o cheiro da graça.



Tivesse eu que definir o modo como vivo, diria, entre a melancolia e a graça. Para mim, não há nada entre elas, só abismo.



Peço aos inteligentinhos que me poupem o blá-blá-blá do jardim da infância sobre as críticas ao cristianismo ou ao conceito de Deus. Proponho que hoje vão brincar no parque.



A graça é generosa, não pensa em si mesma, pode ser humilhada, ignorada, desprezada, mas ainda assim ela dá vida. A natureza só pensa em si mesma, submete todos a ela, é escrava de sua fisiologia, ao fim, vira pedra.



É mais ou menos assim que a mãe “mística” define a diferença entre viver segundo a graça ou segundo a natureza. Se a vida é fruto da graça, ela é dádiva de beleza e de bondade, se ela é apenas natureza, ela é cega e sem sentido.



O adulto Sean Penn será o herdeiro agoniado desta questão: a vida é graça ou mera natureza? “Devo ser competitivo”, como o pai o ensinou a ser (a natureza), ou “generoso”, como a mãe lhe dizia (a graça)? A morte prematura do irmão será intransponível? Como amar a vida diante da morte? Seria ela a derrota da graça? A vitória da natureza cega?



Cada morte é como se fosse a primeira morte no mundo.








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