"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

domingo, 1 de maio de 2011

Tipos Psicologicos: Diferentes Abordagens ao Real

Adriana Tanese Nogueira



Por que as pessoas reagem e interpretam o mesmos eventos de formas tão diferentes? A partir de 1913, Carl Gustav Jung (1875-1961) colocou esta pergunta a si mesmo.



Em 1913, Jung havia publicado seu “Símbolos da Transformação” provocando a reação áspera de Freud e sua desonra na associação psicoanalítica daquele tempo. Ele não mais seria o “herdeiro” de Freud. Apesar das previsíveis consequências Jung não podia negar suas descobertas, que giravam em torno do conceito de “libido”. Para Jung, libido é muito mais do que impulso sexual, e o próprio Eros não se resume a uma energia física.



Por que então o mesmo fenômeno é interpretado e sua compreensão desenvolvida em modos tão diferentes como o dele e o de Freud? A pergunta rodopiou em sua mente por muitos anos.





Como resultado desta busca, em 1921 ele publicou “Tipos Psicológicos”. Seus estudos não se limitaram a seus contemporâneos mas, como é típico de Jung, ele estudou o mesmo fenômeno entre filósofos e teólogos ao longo da história ocidental. Suas conclusões o levaram para os tipos psicológicos.





Estes são: Pensamento, Sentimento, Sensação e Intuição. Quatro modos de abordar a realidade, todos eles igualmente válidos. O objetivo principal das funções é - como para tudo o que é vivo - uma bem sucedida adaptação. Elas se unem umas às outras em diferentes combinações para formar a personalidade inteira na qual cada uma tem seu lugar (ou haveria de ter).







Pensamento e Sentimento são funções racionais. Sensação e Intuição, irracionais. Racional quer dizer que a função trabalha seguindo uma lógica e objetiva um determinado fim. Irracional é o que simplesmente acontece, não pode ser controlado.





A Sensação é uma função de percepção. É um relacionar-se com o mundo a partir dos cinco sentidos. Graças a ela sabemos do ambiente à nossa volta, entramos em contato com os eventos (não os interpretamos, só os vivemos) e apreciamos o conforto, o dinheiro e o mundo físico. A Sensação não necessita de nenhum raciocínio para acontecer, ao contrário, uma pessoa precisa suspendê-lo se quiser apreciar um pôr-do-sol, uma praia ou uma relação sexual.





Uma vez que a Sensação percebeu o objeto ou evento, vem a função Pensamento para julgá-lo de acordo com conceitos racionais. O raciocínio que segue uma lógica estruturada em causa e efeito é o que torna o Pensamento uma função racional. Graças a ela podemos decidir se uma situação é certa ou errada.





O Sentimento também avalia, mas não por meio de idéias ou conceitos, e sim valores afetivos. É a lógica do coração que está em jogo. Sua racionalidade se reflete no fato que o Sentimento julga o sinal positivo ou negativo de uma relacão ou situação. Graças a ele sabemos se uma coisa é boa ou ruim.





Após perceber o objeto, defini-lo em sua razão de ser e dar-lhe um valor sentimental, intervém a quarta função. A Intuição prevê os possíveis desenvolvimentos que a situação ou relação pode ter. Ela capta o processo interno das coisas e para onde está direcionado. É irracional proque não acontece quando você pede e não depende de uma lógica causa-efeito para fazer sentido.





As quatro funções psicológicas podem ser extrovertidas ou introvertidas, o que significa que a libido individual (que para Jung é a própria energia vital que se expressa de diferentes formas, sendo a sexual uma delas), está preocupada e vinculada sobretudo ao mundo externo ou àquele interno. No primeiro caso, a vida da pessoa e seu pensamento são orientados pelo que está fora dela; no segundo, a bússola da pessoa é sempre seu si mesmo mais profundo.





As quatro funções criam quatro tipos psicológicos dependendo de qual função é a proeminente. As funções geralmente funcionam em duplas, uma racional com uma irracional, visto que duas do mesmo tipo conflitam uma com a outra. Pensamento e Sentimento são opostos: ou você usa o lógica da mente ou a do coração - nunca as duas juntas ao mesmo tempo. Sensação e Intuição se auto-excluem: se você presta atenção principalmente à aparência física de seu parceiro, suas formas e tamanhos, não vai poder de verdade levar em consideração sua beleza interior.





Infelizmente, o desenvolvimento psicológico das quatro funções é influenciado pela cultura na qual vivemos. A civilização ocidental está focada no Pensamento e na Sensação, em lógica e dinheiro, leis e comida, ordem e conforto. Naturalmente, estas serão as funções mais estimuladas numa criança e portanto as outras duas vão ser de alguma forma renegadas, dependendo da radicalidade dos pais. A Intuição, por exemplo, é altamente temida em várias casas. Por outro lado, ela dá lugar a ambiguidades e superficialidades sem fim. O Sentimento leva à novelas bregas à ingenuidade. Muitas vezes um estimado e reconhecido juíz é infantil e imaturo no que diz respeito seus sentimentos.





A função não desenvolvida é chamada de “primitiva” ou “infantil”. O mundo ocidental é primitivo e infantil em sua forma de lidar com sentimentos e intuições, mas altamente desenvolvido em suas funções Pensamento e Sensação. Como exemplo de como somos primitivos nos sentimentos e fortes no pensamento, baste pensar na Ética. Temos excelentes Éticas, uma das melhores foi escritas mais de 250 anos atrás em Konigsberg, Alemanha, por E. Kant, outra extraordinária foi pregada 2010 anos atrás por você sabe quem. E daí? Idéais pode ser claras como o sol ao meio dia, mas comportamentos e fatos estão ainda atolados em lamacentas crateras que podem explodir a qualquer hora. Por outro lado, a Intuição ocidental exprime sua infantilidade nas centenas de gurus religiosos (ou não) com suas A Nova Verdade Para Você Mudar Sua Vida Em Somente 30 Minutos Ao Dia.







O melhor modo para resolver o dilema: desenvolva sua personalidade como um todo. Seja Uno, não um pedaço de si mesmo. Evite a perfeição, busque a integridade que é a integração de todas e de cada parte de você. E, last but not least: evite receitas multimilionarias bobas.
 

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