"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Feminismo: este palavrão

Mulheres de classe média, comportadas e instruídas, que estão em busca de si mesmas, que querem ser conscientes e equilibradas, espiritualizadas e compreensíveis... estas mulheres temem a palavra "feminismo". As das classes carentes não sabem o que isso significa, e as da classe A talvez achem que seja um conceito ultrapassado, pra quem tem dinheiro. Não sei.





Não percebem essas moças que a antipatia que circunda esta palavra, "feminismo", é uma conveniente mistificação espraiada pelo machismo para que elas permaneçam sob seu controle. Também não se apercebem essas mulheres que é somente graças ao feminismo que elas hoje podem votar, trabalhar e até ler esse post.









Ser feminista não é ser contra os homens. Deus nos guarde! O que faríamos sem homens?? Feminismo é ser contra o machismo, ou seja contra toda forma de organização social (incluindo a família) que coloca a mulher num papel submisso, inferior e desvalorizado. Toda relação injusta em que a mulher sofra como vítima é de interesse feminista. Onde há desingualdade de direitos, falta de oportunidades para a mulher, o feminismo entra em cena. O feminismo é o único movimento social e teórico que está ao lado dos direitos das mulheres. Uma mulher deveria ser feminista pelo próprio fato de ser mulher.





Ser homem não quer dizer ser machista. Mesmo muitos homens sendo machistas, o que se condena neles é uma atitude, não necessariamente sua pessoa. É como para o racismo. O racismo é condenável, ponto. Se uma pessoa é racista convencida e age como tal, eu, que su intolerante ao racismo, a afasto de mim. Se ela estiver disponível a rever seu ponto de vista porque é racista por cultura e não por convicção pessoal, então temos uma chance de relação. O mesmo vale com os homens e seu machismo.





Ser feminista, portanto, é a única forma de encarar a vida das mulheres que diz: não acho certo ter menos direitos do que os homens, ganhar menos do que eles, ter menos oportunidades na sociedade. Não quero andar na rua sentindo medo, ser importunada por qualquer indivíduo só porque este tem um pênis. Não quero ser tratada como um objeto sexual. Não quero um homem mandando em mim com a justificação que é "homem". Não quero ter medo de um homem só porque ele é mais forte do que eu fisicamente, tem mais dinheiro, e possui o apoio de uma polícia e de uma sociedade conivente. Não quero que ser mãe seja um handicap em minha vida, por tornar-me dependente e/ou pobre, sujeita à chantagem masculina. Quero ter uma maternidade decente e escolhida, quero poder cuidar de meu filho com o reconhecimento que mereço. Não quero ser uma mãe-incubadora, cuja cria é dada para alimento o sistema com suas creches, escolas, mídia e cultura de massa.





Espiritualizar-se não dispensa do fato que somos seres sociais, seres políticos, cidadãs de um mundo de carne e osso que só pode ser mudado se nós o fizermos mudar. Amar não pode cegar de ver o abuso fora e dentro de casa, as atitudes de rebaixamento constante que homens instruídos e de sucesso (ou ignorantes beberrões) aplicam em suas esposas, colocando-as no rol de filhinhas tontas (ou de prostitutas) para se sentirem superiores a elas. Ser equilibradas não quer dizer se fazer de tontas. Ou sorrir amarelo no lugar de bater o punho na mesa e chutar o balde quando necessário. Até Jesus Cristo mandou todos pro inferno quando estavam fazendo do templo um lugar de aproveitamento comercial!

Ser feminista é solidarizar-se com as mulheres, é ser justas consigo e com as outras no lugar de priorizar se agradável para um homem. É estar ao lado de si mesmas e das meninas e mulheres do futuro. Ser feminista é amar um homem como homem, não como menino mimado que precisa subir nos ombros de sua mulher para se sentir importante. É parar de ser mãe do homem, de nutrir seu sentimento de onipotência, para ser sua mulher companheira, em reciprocidade e igualdade, transparência e alegria. Ser feminista é não se oferecer em liquidação só para não se sentir só.



Ser feminista é uma obrigação moral da mulher que tem e respeita sua dignidade.
 
Adriana Tanese Nogueira

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