"... violar um sistema sabendo do que se faz é outra coisa, aí sim é preciso de um ato de verdadeira coragem.
É isso que chamamos outorgar-se ou empoderar-se. Autorizar-se a assumir um novo papel na vida, uma nova escolha, uma nova atitude consiste em abrir mão da aprovação e do apoio do coletivo, implica acreditar em si mesmos na medida do possível (porque até experimentar nunca saberemos o que somos capazes de fazer). Significa também ter fé."
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Há pessoas que se autorizam a fazer o que querem. E há as que têm receio e mil e uma insegurança. No primeiro conjunto, encontramos as pessoas que se dão o direito de agir conforme acham conveniente porque não tem (e não querem ter) consciência das consequências do que fazem. No segundo grupo há aquelas pessoas que se empoderaram tendo ética e visão lúcida das coisas.
Obviamente, o primeiro grupo é o que reúne o maior número de pessoas. Nele encontramos desde ladrões e políticos a dultos ganansiosos e adolescentes sonsos. Sabemos o quanto é fácil fazer o que bem se entende sem pensar. Conhecia uma pessoa que chegava a se orgulhar de agir sem utilizar seus neurônios demais, como se pensar fosse um fardo que atravancasse seu caminho.
De fato, pensar traz complicações. E aqui entra o segundo tipo de pessoas. Entre elas há indivíduos que não se acham no direito de alterar o curso das coisas, são inseguros e medrosos. Habituaram-se à submissão que consideram a forma “normal” de ser. Há também nesse grupo pessoas que são aparentemente conscientes demais, pensam demais, se perguntam a respeito de todos os prós e os contra,e temem atrapalhar os outros. Elas colocam o coletivo acima de seu anseio e nunca sabem se “estão certas”.
Os submissos possuem uma sensibilidade especial para com aquelas pessoas que “agem sem pensar”. As admiram e consideram seus líderes pois fazem o que elas achavam “impossível” ou “corajoso”. Os inseguros conscientes não têm referências, só o trêmulo sentimento de seus escrúpulos.
Os dois grupos humanos podem ser também entendidos como estágios da consciência. Dependendo em qual a pessoa se encontra, ela terá uma forma diferente de lidar com aquele impulso interior que leva a violar alguma regra social ou a romper algum limites. Se o movimento interno for forte mas a consciência ética fraca, a pessoa será agressiva e descarada, e sobre essas características construirá sua vida. Se, ao contrário, a pessoa tiver personalidade fraca e pouca consciência considerará as regras sociais como invioláveis e admirará os que sabem quebrá-las e se darem bem.
Por outro lado, a pessoa que tiver consciência e conseguir enxergar além do próprio umbigo estará vivendo um penoso conflito interno. Violar uma regra ou um hábito “sem pensar” ou sem estar conectados emocionalmente ao sentido da violação é fácil. Resume-se num puro gesto, num comportamento físico e basta. Mas, violar um sistema sabendo do que se faz é outra coisa, aí sim é preciso de um ato de verdadeira coragem. É isso que chamamos outorgar-se ou empoderar-se. Autorizar-se a assumir um novo papel na vida, uma nova escolha, uma nova atitude consiste em abrir mão da aprovação e do apoio do coletivo, implica acreditar em si mesmos na medida do possível (porque até experimentar nunca saberemos o que somos capazes de fazer). Significa também ter fé.
Se as pessoas inconscientes e desavergonhadas precisariam de consciência e ética (ou de um tempo entre as grades para refletir sobre a vida), as conscientes e inseguras devem sacudir o medo e ousar confiar em si mesmas. Outorgar-se nessa condições, sem o alvará externo (porque aí não é outorgar-se e sim ser outorgados), exige aceitar dar um salto no escuro, acreditar que haverá asas que se abrirão e se poderá voar (no lugar de se estraçalhar no chão). O xis da questão de muitas pessoas com ética é como entender seu chamado e superar sua insegurança.
Assim como um quarto mobiliado não oferece lugar para novos móveis, da mesma forma o mundo não está pronto para o novo. É preciso rearranjar as coisas, escolher e fazer espaço. Esse “fazer espaço” é que é difícil, pois significa dar-se o direito de ter um lugar nesse mundo, não na base da estupidez agressiva ou da manipulação, mas do simples básico direito de ser. Eu existo, eu sou, eu estou aqui e pegarei meu lugar.
Adriana Tanese Nogueira
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