"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 18 de dezembro de 2010

Outorgar-se

"... violar um sistema sabendo do que se faz é outra coisa, aí sim é preciso de um ato de verdadeira coragem.
É isso que chamamos outorgar-se ou empoderar-se. Autorizar-se a assumir um novo papel na vida, uma nova escolha, uma nova atitude consiste em abrir mão da aprovação e do apoio do coletivo, implica acreditar em si mesmos na medida do possível (porque até experimentar nunca saberemos o que somos capazes de fazer). Significa também ter fé."

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Há pessoas que se autorizam a fazer o que querem. E há as que têm receio e mil e uma insegurança. No primeiro conjunto, encontramos as pessoas que se dão o direito de agir conforme acham conveniente porque não tem (e não querem ter) consciência das consequências do que fazem. No segundo grupo há aquelas pessoas que se empoderaram tendo ética e visão lúcida das coisas.
Obviamente, o primeiro grupo é o que reúne o maior número de pessoas. Nele encontramos desde ladrões e políticos a dultos ganansiosos e adolescentes sonsos. Sabemos o quanto é fácil fazer o que bem se entende sem pensar. Conhecia uma pessoa que chegava a se orgulhar de agir sem utilizar seus neurônios demais, como se pensar fosse um fardo que atravancasse seu caminho.
De fato, pensar traz complicações. E aqui entra o segundo tipo de pessoas. Entre elas há indivíduos que não se acham no direito de alterar o curso das coisas, são inseguros e medrosos. Habituaram-se à submissão que consideram a forma “normal” de ser. Há também nesse grupo pessoas que são aparentemente conscientes demais, pensam demais, se perguntam a respeito de todos os prós e os contra,e temem atrapalhar os outros. Elas colocam o coletivo acima de seu anseio e nunca sabem se “estão certas”.
Os submissos possuem uma sensibilidade especial para com aquelas pessoas que “agem sem pensar”. As admiram e consideram seus líderes pois fazem o que elas achavam “impossível” ou “corajoso”. Os inseguros conscientes não têm referências, só o trêmulo sentimento de seus escrúpulos.
Os dois grupos humanos podem ser também entendidos como estágios da consciência. Dependendo em qual a pessoa se encontra, ela terá uma forma diferente de lidar com aquele impulso interior que leva a violar alguma regra social ou a romper algum limites. Se o movimento interno for forte mas a consciência ética fraca, a pessoa será agressiva e descarada, e sobre essas características construirá sua vida. Se, ao contrário, a pessoa tiver personalidade fraca e pouca consciência considerará as regras sociais como invioláveis e admirará os que sabem quebrá-las e se darem bem.
Por outro lado, a pessoa que tiver consciência e conseguir enxergar além do próprio umbigo estará vivendo um penoso conflito interno. Violar uma regra ou um hábito “sem pensar” ou sem estar conectados emocionalmente ao sentido da violação é fácil. Resume-se num puro gesto, num comportamento físico e basta. Mas, violar um sistema sabendo do que se faz é outra coisa, aí sim é preciso de um ato de verdadeira coragem. É isso que chamamos outorgar-se ou empoderar-se. Autorizar-se a assumir um novo papel na vida, uma nova escolha, uma nova atitude consiste em abrir mão da aprovação e do apoio do coletivo, implica acreditar em si mesmos na medida do possível (porque até experimentar nunca saberemos o que somos capazes de fazer). Significa também ter fé.
Se as pessoas inconscientes e desavergonhadas precisariam de consciência e ética (ou de um tempo entre as grades para refletir sobre a vida), as conscientes e inseguras devem sacudir o medo e ousar confiar em si mesmas. Outorgar-se nessa condições, sem o alvará externo (porque aí não é outorgar-se e sim ser outorgados), exige aceitar dar um salto no escuro, acreditar que haverá asas que se abrirão e se poderá voar (no lugar de se estraçalhar no chão). O xis da questão de muitas pessoas com ética é como entender seu chamado e superar sua insegurança.
Assim como um quarto mobiliado não oferece lugar para novos móveis, da mesma forma o mundo não está pronto para o novo. É preciso rearranjar as coisas, escolher e fazer espaço. Esse “fazer espaço” é que é difícil, pois significa dar-se o direito de ter um lugar nesse mundo, não na base da estupidez agressiva ou da manipulação, mas do simples básico direito de ser. Eu existo, eu sou, eu estou aqui e pegarei meu lugar.
Adriana Tanese Nogueira

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