"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quem faz terapia? Os melhores


Adriana Tanese Nogueira



Há pessoas cujo movimento interno é tão intenso que precisam de mudanças frequentes. Outras, cuja resistência interna é tão grande que ultrapassam a época certa da tomada de atitude, perdem o momento e se afogam ou esclerosam num estado antiquado de ser. Para estas, começar uma análise é algo "feio", "coisa de maluco", ou "desnecessária".

(...)

Enquanto os outros aceitam os nós existenciais que os amarram e inventam subterfúgios para distrair-se e ir levando, há pessoas que não conseguem se enganar e enfrentam uma jornada que é muito mais difícil e empenhativa do fingimento cotidiano de muitos familiares e colegas. E não são esses os melhores?
Do ponto de vista técnico, a psicanálise nasceu para curar "neuróticos". Freud os definia como indivíduos que viviam um conflito interno entre duas tendências: a de adaptar-se às regras de vida oferecidas pelo Super Ego, representante da autoridade social, e a tendência vinculada ao princípio de prazer que se contrapunha para impor-se. Traduzido em linguagem moderna: a briga é entre a adaptação a um modo de ser aprendido e aplicado (acriticamente), tido como o certo e o melhor (Superego) e a pulsão interior (inexplicável - quantas vezes já não ouvi uma pessoa dizer assustada e quase escandalizada: eu achava que me conhecia, o que é isso que sinto?!) que busca outros valores, outros caminhos, outros modos de ser. "Neurótico" é que ficam empacado nessa briga e, como um disco quebrado, acaba por repetir a mesma estrofe porque não consegue ir adiante. Em definitiva, a luta é entre o velho e o novo.

Somente quem assume o conflito é quem está apto a dar à luz o novo. Claro que antes deve passar pelo trabalho de parto e pelo parto os quais, como na realidade física, demoram conforme a entrega ou a resistência da pessoa ao processo. Que a caminhada seja demorada ou não, não é valiosa quando se gera uma nova vida, um novo Eu?

Por este motivo, meu antigo supervisor e analista, Mario Mencarini, costumava dizer: nos interessam somente os neuróticos. Não para angariar clientes, mas porque somente os neuróticos são pessoas interessantes.

Os não-neuróticos podem ser divididos em duas categorias: aqueles que estão aquém do conflito, imaturos e crus, como uma pessoa de outro tempo histórico, priva dos conceitos para entender o que acontece aqui; e aqueles, a maioria, que estão presos às ilusões e projeções com as quais se mascaram. Uma pequena parte desses tenta sinceramente começar uma análise mas acabam se dando conta que "não é possível servir a dois patrões". Quando se trata de por-se em discussão, pulam fora do vínculo analítico. Não estão prontos ainda.


Texto completo: Psicologia Dialética

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